Com quase cinco metros de perímetro, 40 metros de altura e dois séculos de vida, impunha-se num recanto sombrio e abrigado do Tremelgo, Marinha Grande, perto do pequeno ribeiro de água murmurante.
O cenário idílico é descrito por Carlos Franquinho, estudante de Ciências do Ambiente, apaixonado pelo Pinhal de Leiria – ou do Rei -, que na internet deu nota da queda do maior pinheiro bravo do país, provavelmente da Península Ibérica.
“É a sua imensa espessura que impressiona: quatro homens talvez tenham dificuldade em abraçá-lo”, conta.
Mesmo tombado, ainda é difícil ficar indiferente àquele que era o maior habitante dos 11 mil hectares de pinhal. Sublinha Carlos Franquinho: “Ali percebemos como os séculos vão passando sem pressa sobre esta floresta. Subitamente faz mais sentido o nome que lhe dão os marinhenses: Pinhal do Rei”.
O “Pinus Pinaster Aiton” estava classificado com interesse público pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). O organismo que gere o Pinhal de Leiria não se mostrou disponível para um balanço do mau tempo, mas outro estudioso do pinhal, José Gonçalves, escreveu no seu blogue que, além do referido pinheiro bravo, caíram imensas outras árvores, algumas também classificadas.
Em alguns locais, “a devastação foi de tal ordem que nem a pé se conseguia passar, tal era a quantidade de árvores tombadas sobre os caminhos, aceiros, arrifes e estradas, onde nem o asfalto era visível”.
Carlos Franquinho nota que a perda é mais sentimental que ambiental. “O Pinhal de Leiria produz lenha para vender. As árvores que caíram acabariam por ser cortadas”.
No caso do maior pinheiro bravo, a idade avançada aumentava o risco de cair por si. “Mas perde-se parte da história do Pinhal de Leiria”.
O que fazer com o gigante?
O Pinhal de Leiria está fora da jurisdição da Câmara da Marinha Grande, que, contudo, defende que se devem apurar as causas dos danos, nomeadamente “se decorreram de violação dos deveres de conservação e manutenção do pinhal ou se derivaram exclusivamente do mau tempo”.
Ao REGIÃO DE LEIRIA, a Câmara da Marinha Grande critica “a inação do ICNF, quer no período imediato à ocorrência da intempérie, quer posteriormente, nas operações de remoção e de limpeza”.
Por saber está ainda qual será o futuro do gigante pinheiro, que continua caído no local. Carlos Franquinho sugere: “Ficaria bem no Museu da Floresta, que continua ‘encalhado’. A ser cortada e vendida para lenha, é preferível deixar lá estar a árvore. Está protegida legalmente, pode muito bem ficar como monumento”.
Também em Ourém o mau tempo causou estragos entre árvores classificadas. Domingos Patacho, da Quercus, lembra um carvalho monumental, “com várias centenas de anos”, caído em Alburitel, e “uma das maiores azinheiras de Portugal” derrubada em Matas, freguesia de Nossa Senhora das Misericórdias.
O dirigente da associação ambientalista nota, contudo, que as árvores caíram por causas naturais. “É uma perda, mas faz parte da natureza… Aguentaram várias gerações e viveram grande parte da história de Portugal. Eram monumentos vivos”.
(Notícia publicada na edição de 7 de fevereiro de 2013)
Manuel Leiria
manuel.leiria@regiaodeleiria.pt