“A criação do ensino superior politécnico é uma das conquistas de Abril de que mais nos devemos orgulhar”, porque permitiu democratizar o acesso ao ensino superior e derrubar “uma fortíssima barreira social”, disse esta quinta-feira o presidente do Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria), durante as comemorações dos 39 anos do 25 de Abril, em Leiria.
Nuno Mangas, o orador convidado pelo município para a sessão solene deste ano, regozijou-se pelas muitas conquistas de Abril de 74. Num discurso positivo, lembrou que todos os indicadores sociais colocam Portugal entre os chamados países desenvolvidos e que só uma profunda ignorância permite afirmar o contrário. “E devemos ter muito cuidado”, advertiu, “porque a ignorância é a primeira grande inimiga da liberdade”.
O presidente do IPLeiria trouxe à memória o crescimento de Portugal em vários domínios, mas foi à educação que deu mais ênfase. Em 74, recordou, havia em Portugal sete universidades públicas, e cidades como Leiria, Viseu, Castelo Branco ou Santarém não tinham ensino superior. “O que teria acontecido aos jovens, e aos adultos que não tiveram oportunidade de fazer a sua formação enquanto jovens, se estas instituições de proximidade não existissem, o que seria também destas cidades e destas regiões?” questionou, dirigindo-se à plateia do Teatro Miguel Franco, composta por pouco mais de meia centena de pessoas.
E se, para Nuno Mangas, o ensino superior politécnico foi “uma das coisas boas de Abril”, ele é igualmente determinante para o futuro e expôs os números que colocam Portugal abaixo da média europeia em matéria de licenciados. “Temos cursos e licenciados a mais? Só mesmo na nossa imaginação, pois os números mostram o contrário”, referiu, admitindo que “a sociedade é uma estrutura, hoje, muito mais complexa do que há 39 anos”, que “coloca níveis de exigência muito superiores aos cidadãos”.
Piscar o olho ao eleitorado
A aposta na formação e qualificação enfatizada por Nuno Mangas já tinha sido objeto de menção por dois dos oradores que o antecederam: Gastão Neves e Raul Castro.
Durante a sua intervenção, o representante dos vereadores social-democratas e atual candidato à Câmara de Leiria pelo PSD, referiu-se à necessidade de “qualificar e preparar as novas gerações para os desafios que se avizinham”. Gastão Neves congratulou-se com o convite do executivo municipal a Nuno Mangas, “realçando a posição de destaque” alcançada pelo IPLeiria.
Sem despir a pele de vereador, mas já candidato, aproveitou a ocasião para piscar o olho ao eleitorado, apelando à “coragem de iniciar uma nova era, em que se reconhecerá um novo estímulo, uma nova forma de estar na política”. Acabou também por deixar um esboço do que será o seu programa eleitoral: “continuar a assegurar a construção das infraestruturas e dos equipamentos concelhios”, sem esquecer “a criação de riqueza e a coesão territorial, alavancando projetos que recuperem a verdadeira identidade do concelho”.
Ainda a propósito de educação, Raul Castro, atual presidente da Câmara, sublinhou que “gerar e reter talento é uma prioridade para reforçarmos o valor acrescentado do concelho e da região”.
No discurso que proferiu esta quinta-feira, o chefe do executivo e novamente candidato à presidência da Câmara pelo PS, saiu ainda em defesa do poder local, lembrando o papel que este desempenhou, nos últimos 39 anos, no “acesso a uma melhor qualidade de vida”. Sobre a gestão autárquica, referiu que “o sufoco provocado pelos atuais sistemáticos cortes cegos, levam à penalização de quem gere com rigor, acabando por ser estes a pagar desregramentos alheios”.
Para Raul Castro é necessário redescobrir “ideias-chave para uma atitude positiva e de responsabilização de cada um de nós”. Afirmou que “é tempo de novas ideias e de novas dinâmicas”, “de mudar comportamentos também e, assim, credibilizarmos a política”. Terminou afirmando-se confiante no futuro e com um apelo à confiança no trabalho da sua equipa.
Democracia em risco
De falta de esperança falou, sobretudo, o vereador eleito pelo CDS. António Martinho disse que “a confiança nas instituições e nos dirigentes de cargos públicos tem vindo a erodir-se com assinalável rapidez, sinal de um poder político bloqueado, incapaz de dar resposta aos anseios dos cidadãos”. O vereador do CDS referiu, mesmo, que “o próprio regime democrático começa a estar em causa” e lembrou que “não existem regimes eternos”. Na sua intervenção, teceu críticas aos que optam “pelo caminho da cedência face aos interesses corporativos” e “a procura a todo o custo da simpatia imediata, numa lógica eleitoralista de supermercado de votos”. Alegou o vereador que assim se “esvazia o exercício da nobreza da função e apenas gera oportunismos e clientelas de que o próprio sistema se alimenta”.
Também por essa razão, António Martinho referiu que “nunca, como hoje, existiu no espírito coletivo tantas dúvidas e incertezas sobre o futuro de Portugal”.
Sobre incertezas e angústias já Carlos André tinha versado na sua intervenção, a primeira do conjunto previsto para a cerimónia. O presidente da Assembleia Municipal de Leiria qualificou de “cinzento e sombrio, inserto e vacilante, este abril de 39 anos”, mas sublinhou, por outro lado, que, “entre as muitas lições de abril – e são tantas – uma das mais vivas é aquela que nos ensina a jamais trilhar o caminho da desistência”. Carlos André defendeu, por isso, não ser necessário “fazer um novo abril” e não ter de “começar tudo de novo”. “Basta sermos herdeiros, legítimos, dignos e verdadeiros do abril destes 39 anos”, sustentou, “sermos senhores dessa herança nos há de bastar”.