(a minha última crónica)
Nos últimos anos assisti à completa degradação da nossa democracia, foi por isso que aceitei o convite de dar a minha humilde opinião neste espaço que se chama “A Corda”. No entanto, não pretendo continuar e esta será a última vez que aqui partilho os meus disparates.
Portugal poderia ser um país absolutamente fantástico, mas não tem líderes à altura, pelo contrário, são completamente medíocres e ainda tem um povo que permite tudo, um povo masoquista que alimenta toda a máquina de corrupção que reina neste país. E alimentamos essa máquina de várias formas. Além da nossa habitual passividade, damos carta branca aos nossos políticos ao votarmos sempre nos mesmos. O voto tornou-se praticamente um acto suicida neste país. Acreditamos nas fantasias e mentiras dos principais partidos e depois sentimos na pele quando os mesmos nos viram as costas e fazem favores aos seus grandes amigos. Também a alimentamos diariamente no nosso quotidiano. Se grande parte dos portugueses fizer as contas sobre o que gasta quando vai trabalhar… e falo de impostos, alimentação, despesas com transportes, até mesmo roupa que tem de comprar para ir para o seu emprego, chega à conclusão que apenas está a alimentar um sistema que não o beneficia em nada! Tenho quase a certeza que muitos até pagam para trabalhar! E assim vamos andado “felizes e contentes” na nossa vidinha… enquanto alguns privilegiados recebem uma subvenção vitalícia misteriosa protegida pela Lei do Sigilo dos Privilégios, sem fazer… nada, basta respirarem! Por isso, Portugal tornou-se num pequeno inferno para os seus cidadãos, uma terra prometida cada vez mais distante. Na mitologia grega existe um cão de três cabeças, o Cérbero, que guarda a entrada de Hades, um inferno nos confins da Terra. Esta criatura é adorável e fofinha quando as pessoas chegam à porta, lembrando os nossos políticos antes das eleições, mas depois de entrarem no “reino perdido” de Hades já não conseguem sair. Este animal de três cabeças… e imagino facilmente as cabeças de Cavaco Silva, Passos Coelho e Paulo Portas, transforma-se num monstro absolutamente feroz que despedaça todos os mortais que lhe apareçam à frente. Talvez seja daí que vem a expressão “Hades cá vir!” Resta-nos a esperança que um dia apareça algum Hércules que nos livre de Cérbero…
Escrito de acordo com a antiga ortografia
(texto publicado na edição de 26 de setembro de 2013)