Os funerais promovidos no distrito de Leiria implicaram no ano passado despesas da Segurança Social e dos familiares dos falecidos de pelo menos 11 milhões de euros, numa altura em que já eram notórias maiores dificuldades em pagar às funerárias, com os reflexos negativos a acentuarem-se este ano e a afetarem a liquidez das agências.
Segundo Carlos Almeida, presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas (ANEL), “o melhor fundo de poupança das pessoas são as funerárias, que esperam pela Segurança Social, e pelos benefícios sociais, que por efeito da ‘troika’ estão em metade, ou menos de metade”.
“Continua a haver o funeral a crédito porque as pessoas não querem abdicar de uma cerimónia que tenha determinadas condições e depois a funerária é o ‘cartão de crédito’ até receberem da Segurança Social, agora menos, o que veio agudizar mais a questão”.
No distrito houve 7.093 óbitos no ano passado, enquanto a nível nacional foram 107.612, representando uma faturação para o sector funerário de 172 milhões de euros. No entanto, se juntarmos outros negócios associados, como o fabrico de caixões, campas, e a venda de flores, o valor das transações nacionais pode chegar aos 400 milhões de euros por ano.
O concelho de Leiria foi aquele que registou mais óbitos no ano passado (1.094) e Castanheira de Pera o município com menos falecimentos (63). No distrito existem 90 funerárias, 10% do total nacional, que representam 1.400 balcões em todo o País e empregam entre seis e 10 mil pessoas.
Neste momento, 60% dos funerais – com um custo médio de 1.600 euros – são a crédito, uma situação que não afeta ainda mais as funerárias apenas porque a maioria têm estruturas familiares. “A sorte é que a maior parte são microempresas ou PME. São famílias que trabalham e vão gerindo as coisas com parcimónia. Agora, afeta quem está a montante, os fornecedores, a dilação dos pagamentos, a consignação – tudo isso já existe, porque não há milagres”, explica Carlos Almeida.
Os funerais a crédito existem “há muito tempo”, mas estão a aumentar. “A tendência é a situação agravar-se, porque também já acontece muitas vezes a Segurança Social enviar as comparticipações e as pessoas saldarem outras dívidas, relacionadas com outras necessidades emergentes, como pagar ao merceeiro ou ao Estado”, conclui o presidente da Associação Nacional de Empresas Lutuosas.
O subsídio por morte tem um valor fixo de 1.257,66 euros – metade do que se verificava até 1 Fevereiro do corrente ano – e o reembolso das despesas de funeral não pode ultrapassar aquele verba (era de 1.676 euros até à mesma data).
Funeral social custa um quarto do comum
O preço máximo do serviço básico do funeral social é atualizado em Outubro, de acordo com o valor percentual correspondente à taxa de inflação anual.
Neste momento, o preço máximo praticável é de 391,50 euros. Os agentes funerários poderão, evidentemente, praticar preços inferiores.
O serviço básico de funeral social inclui: urna em madeira de pinho ou equivalente, com uma espessura mínima de 15 mm, ferragens, lençol, almofada e lenço; transporte fúnebre individual, e os serviços técnicos necessários à realização do funeral, prestados pela agência. Os familiares do falecido têm de abdicar do velório e das celebrações religiosas, situação apontada como a principal razão para evitarem esta solução muito mais económica do que um funeral comum.
Saliente-se que o funeral social tem toda a dignidade exigida ao ato, apenas não englobando os rituais considerados dispensáveis.
Óbidos no distrito de Leiria 1960-2012
1960 2012
Alcobaça 678 669
Alvaiázere 152 112
Ansião 167 181
Batalha 118 133
Bombarral 165 150
Caldas da Rainha 377 590
Castanheira de Pera 66 63
Figueiró dos Vinhos 112 98
Leiria 717 1094
Marinha Grande 175 383
Nazaré 126 167
Óbidos 113 126
Pedrógão Grande 85 90
Peniche 188 312
Pombal 523 663
Porto de Mós 203 250
Total no distrito 5925 7093
Total nacional 95.007 107.612
(Notícia publicada no Especial Serviços Fúnebres, publicado na edição de 24 de outubro de 2013)
Carlos Ferreira
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