Na minha aldeia realiza-se há já vinte anos um jantar que junta sempre muitas mulheres. Já foi noticiado em jornais, nas televisões nacionais, mas hoje já não é notícia. Contudo, na década de noventa foi notícia porque era necessário marcar uma data para que muitas mulheres tivessem “permissão” para, por uma noite, poderem sair sem filhos e marido. Havia quem se risse e quem não compreendesse, quem até brincasse com o assunto. Eu sempre achei que fazia sentido.
Atualmente, o jantar faz-se para comemorar o encontro de gerações, para relembrar a alegria de mulheres que nos marcaram como a Tia Natália e a Tia Aurora, para desfilar memórias, partilhar risos e abraços. Eu nunca tive coragem para faltar e este ano lá fui mais uma vez, acompanhada de moças de todas as idades que, ao último minuto, se inscreveram, mesmo suspirando e dizendo que já não era a mesma coisa.
E não é. Este ano acredito que quem foi ao jantar não o fez apenas para ter um motivo para sair à noite. Fê-lo porque escolheu ir. Quis estar com pessoas que se sentem satisfeitas por algo que parece tão simples: saber que há um lugar onde, apesar de eventuais conflitos e tricas, percebemos que nos querem bem.
Há sempre um lugar onde pertencemos…o meu chama-se Cavalinhos, e o seu?
(texto publicado na edição de 7 de novembro de 2013)