Uma instalação, duas pinturas a óleo e dois desenhos a aguarela e tinta-da-china. Com este conjunto de obras, o artista plástico Tiago Baptista, natural de Leiria e antigo aluno da Escola Superior de Arte e Design de Caldas da Rainha, é um dos nove finalistas da edição 2013 do Prémio EDP Novos Artistas, iniciativa bienal que atribui 15 mil euros ao vencedor.
Desde 13 de dezembro e até 23 de março do próximo ano, a exposição coletiva está no Porto (na galeria da Fundação EDP e na Casa da Música). Lembrando “Étant donnés”, de Marcel Duchamp, a instalação de Tiago Baptista consiste num dispositivo ótico, como um peep-show, com dois orifícios através dos quais podemos observar um cenário com ervas, terra e barro, onde está impressa uma cara. É um desvio no curto percurso do jovem de 27 anos.
“Como acedemos a este cenário apenas com o olhar, penso nesta construção como numa pintura, como sendo uma imagem. Decidi arriscar e experimentar uma coisa nova. Não sei se o meu trabalho seguirá por este caminho, mas foi bom porque de alguma maneira senti que trouxe alguma frescura à minha prática pictórica e ajudou-me um pouco a soltar-me da bidimensionalidade da tela e do papel”, explica ao REGIÃO DE LEIRIA.
A pintura maior, “Aprendizagem”, tem representadas três personagens. Uma delas, agachada, tira moldes em papel de buracos no chão. Outra, em pé, segura uma resma de folhas de papel branco. A terceira afasta-se do grupo com a cara tapada por uma máscara de papel modelada a partir de um buraco encontrado no chão. Por todo o lado há elementos naturais e rurais – ervas, árvores, couves, terra – que convivem com referências urbanas, próprias de uma paisagem humanizada.
O jogo repete-se nos desenhos: um comboio entre um couval. E o inesperado também: o observador debruçado sobre uma mesa a olhar para dois pequenos homens que lutam em cima do tampo. Sonho? Realidade? “As ideias subjacentes são um pouco confusas e abstratas. Ainda assim julgo que têm a ver com a omissão da nossa identidade enquanto indivíduos, com a relação que podemos manter com a terra, o barro enquanto matéria que é símbolo de génese e de fim e a relação que estabelecemos com o meio que nos envolve”, refere Tiago Baptista.
De acordo com o artista, que vive e trabalha em Lisboa, há já algum tempo que as suas pinturas retratam “a relação dos corpos com o barro” e geralmente “as personagens encontram-se em locais isolados, entre o urbano e o rural, a fazer coisas pouco normais”.
Para este conjunto de obras, serviu de catalizador a pintura “O Sonho de Jacob”, de José de Ribera. Mas esta depressa sucumbiu sob outras leituras, ao longo de um processo construtivo e evolutivo que levou o princípio da ideia até ao resultado final.
Para Tiago Baptista, estar entre os finalistas do EDP Novos Artistas significa a oportunidade de obter mediatismo e alguma segurança financeira. Os 15 mil euros de uma eventual vitória ainda não têm destino. “Não sei. Talvez estudar ou investir em conhecimento de maneira acompanhada, viajar e pensar em projetos novos, meus e no investimento noutros artistas através da publicação do seu trabalho, por exemplo”.
Leiria, Caldas da Rainha, Lisboa
Tiago Baptista, 27 anos, natural de Leiria, é um antigo aluno de Artes Plásticas da Escola Superior de Arte e Design de Caldas da Rainha. Em 2009, venceu o Prémio Fidelidade Mundial Jovens Pintores. Expôs na Galeria Zé dos Bois, no Museu Colecção Berardo e Palácio Vila Flor e Laboratório das Artes, em Guimarães, entre outros.
(Notícia publicada na edição de 19 de dezembro de 2013)
Cláudio Garcia
claudio.garcia@regiaodeleiria.pt