Um entre os muitos problemas de Portugal é o baixo índice de leitura. “Há pessoas que têm livros e não os querem ler”, nota Josélia Neves, coordenadora do Projeto Leitura Inclusiva Partilhada (PLIP), que pretende responder ao paradoxo de também haver quem queira ler e não tenha livros.
O projeto do Instituto Politécnico de Leiria passa por adaptar obras, originais ou já publicadas, para que possam ser lidas por leitores com necessidades específicas. “Temos consciência que há muitas pessoas com incapacidade que gostariam de ler e apenas não leem porque não têm livros adaptados. Há quem queira livros e não os tenha”.
Claro que existem livros adaptados. A Biblioteca Municipal da Batalha, referência nacional ao nível da inclusão, recebe para eles requisições de cidades como Coimbra ou Porto, por exemplo.
“Os livros adaptados são poucos e raramente se encontram vários formatos congregados no mesmo livro”, explica Josélia Neves.
Este projeto pretende capacitar autores para que os seus livros sejam lidos com os olhos, com os ouvidos, com os dedos “e, porque não, com o corpo todo”. Essa multifuncionalidade consegue-se através da impressão com letra aumentada e utilizando suportes áudio, vídeo, táteis e outros.
“A grande novidade é que estes livros podem ser lidos ao mesmo tempo por pessoas com perfis diferentes. Um pai cego quer ler o mesmo livro que o seu filho normovisual está a ler. Agarrando num livro destes, um pode ler com o dedo, enquanto outro pode ler com os olhos. A ideia de partilhar leituras está na base deste conceito”, sublinha a coordenadora do PLIP.
O projeto nasceu em 2008 mas só agora ganha um impulso decisivo. Em janeiro de 2014 foram apresentados os primeiros dez títulos que serão partilhados no site plip.ipleiria.pt. Vários livros foram apresentados pelos autores e o momento mais intenso foi quando Maria de Fátima Costa – ela própria com necessidades específicas – e a equipa apresentaram “Passaporte para a felicidade”, a história de um homem com Síndrome de Prader-Willi. Muitos não evitaram as lágrimas.
Através do site oficial, o PLIP fará chegar livros multiformato a mais pessoas, permitindo o download gratuito. Josélia Neves esclarece que o PLIP não é uma editora nem tem pretensões comerciais. “O que queremos fazer é transformar livros, recria-los e oferece-los em formato digital, para que as pessoas em casa possam, eles sim, construir, fazer, descarregar estas matrizes e construírem os seus livros à sua medida”.
Este é mais um passo dado a partir de Leiria a pensar em todos. Na cerimónia de lançamento do PLIP, Rui Cunha, da Câmara da Batalha, aproveitou para lançar um desafio: “Porque não envolver Leiria e os concelhos à volta e assumir a acessibilidade como uma marca deste território?”.
Títulos disponíveis
“A história da gaivota e do gato que o ensinou a voar”
Luís Sepúlveda
“Uma questão de azul escuro”
Margarida Fonseca Santos
“O principezinho”
Antoine de Saint-Exupéry
“O ribeiro que queria sorrir”
“O pequeno trevo”
Ana Cristina Luz
“O pequeno trevo e os amigos da rua”
Pedro Santos de Oliveira
“O corvo laranja”
Micael Sousa
“Num mundo às escuras”
Estela Oliveira & Olga Santos
“A ordem do Poço do Inferno”
Nuno Matos Valente
“Passaporte para a ternura”
Maria de Fátima Costa
“Passaporte para a ternura”
Maria de Fátima Costa
(Notícia publicada na edição de 23 de janeiro de 2014)
Manuel Leiria
manuel.leiria@regiaodeleiria.pt