Jantares, cocktails, eventos culturais, sociais e académicos, filmagens para televisão, cinema ou publicidade. Estes são os usos para os quais 23 monumentos do país, mosteiros da Batalha e Alcobaça incluídos, podem agora ser alugados.
A título de exemplo, mil euros compram-lhe a possibilidade de realizar um jantar no Claustro Real do Mosteiro da Batalha. Mas se optar pelo Mosteiro de Alcobaça, o mais certo é ter de gastar um pouco mais. Aí, o preço de aluguer do espaço para um jantar, oscila entre os 1.500 euros pela utilização do Celeiro do Mosteiro – onde podem estar 100 pessoas sentadas – e os 3.000 euros dos Dormitório ou da Galeria de Exposições, com capacidade para 1.000 e 500 pessoas sentadas, respetivamente.
A lotação das salas e os preços de aluguer, estão previstos no novo regulamento de Utilização de Espaços nos Serviços Dependentes e nos imóveis afetos à Direção-Geral do Património Cultural.
A possibilidade de arrendamento surge “numa perspetiva de rentabilização assente na qualidade e, sobretudo, na salvaguarda da sua especificidade e prestígio”, é explicado no diploma publicado dia 27 de junho em Diário da República.
Na verdade, a cedência de espaço, mediante pagamento, nos monumentos não é nova, mas este regulamento veio sistematizá-la, dando-lhe nova visibilidade sublinham os diretores dos mosteiros da Batalha e Alcobaça. O “bom senso” será a principal regra na análise das propostas que surgirem, concordam. Primeiro estará o direito dos visitantes usufruirem do monumento e só depois, se possível, o aluguer dos espaços, reforçam.
Casar e depois jantar?
Jorge Pereira de Sampaio, diretor do Mosteiro de Alcobaça, revela que não é nova a possibilidade de celebrar a cerimónia religiosa de um casamento e, ainda no monumento, realizar o jantar da boda. “Já aconteceu”.
Mas acontece cada vez menos, pois no Mosteiro e na sociedade em geral, a realização de casamentos é um prática cada vez menos frequente. Embora concorde que a cedência de espaços pode ser uma fonte de receitas, este responsável aponta o reforço das políticas que potenciem a atividade turística como caminho privilegiado para as incrementar.
Já Joaquim Ruivo vê pouco espaço para jantares de casamento. “Uma coisa são atividades culturais ou cerimónias públicas que podem ser, a meu ver, perfeitamente equacionadas em qualquer espaço do monumento. Outra coisa são casamentos ou eventos empresariais, por exemplo, que dificilmente terão contexto no Mosteiro da Batalha”, entende o diretor do Mosteiro da Batalha.
Gonçalo Cardoso, presidente do CEPAE – Centro de Património da Estremadura, revela não lhe causar “inteiramente repulsa”, a possibilidade de arrendar espaços dos monumentos, “desde que seja salvaguardada a dignidade dos espaços”.
Ainda assim, deixa o alerta para o “risco de vulgarizar os monumentos, associando-os meramente aos aspetos de cariz comercial”, relegando para segundo plano iniciativas de interesse comunitário “na ânsia de se obterem maiores receitas”. No seu entender, as receitas dos alugueres devem reverter para a conservação dos respetivos monumentos.
CSA/ML
Confira o essencial sobre o aluguer
Qual a razão para ceder o espaço nos monumentos, mediante pagamento?
Esta possibilidade surge “numa perspetiva de rentabilização assente na qualidade e, sobretudo, na salvaguarda da sua especificidade e prestígio”, é explicado no diploma publicado dia 27 de junho em Diário da República.
Que eventos podem decorrer nos monumentos?
O regulamento fala em jantares, cocktails, eventos culturais, sociais e académicos, filmagens para televisão, cinema ou publicidade. Está vedada a cedência dos espaços para eventos políticos e sindicais. A partir daí, tudo depende do aval da Direção Geral de Património Cultural que dará conta da autorização de realização de determinado evento, após ouvido o serviço local do monumento em causa.
Com que antecedência devem ser feitos os pedidos?
Os pedidos devem ser feitos com 15 dias de antecedência. Em concreto, a forma como será aplicada esta nova forma de utilização dos espaços depende ainda da definição de um regulamento de cada monumento, documento que deverá estar concluído no prazo de um mês.
Quantos monumentos estão abrangidos?
São 23, numa listagem que inclui, entre outros, o Museu dos Coches, o Panteão Nacional e a Torre de Belém. São mesmo os monumentos situados na capital portuguesa, os que exigem o pagamento de verbas mais avultadas. O Mosteiro dos Jerónimos obriga mesmo a dispender pequenas fortunas: um jantar nos claustros custa 40 mil euros. No distrito de Leiria, apenas os mosteiros da Batalha e Alcobaça estão a nesta lista. Neste trabalho, pode ainda conferir qual é a prática atual nos castelos da região.
(Notícia publicada na edição de 17 de julho de 2014)