Elevar o peixe seco à categoria gourmet é um dos objetivos do Município da Nazaré, que tem a decorrer dois projetos âncora relacionados com a certificação do produto e com a criação de um museu vivo.
No final de agosto realizou-se a primeira Mostra de Peixe Seco, evento que liga a gastronomia aos vinhos e que passará a ter periodicidade anual. Quanto ao processo de certificação, está a ser desenvolvido em parceria com a Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar de Peniche e com a empresa local Maria da Nazaré.
“É um produto identitário que tem todas as condições para ser elevado à categoria gourmet”, considera o presidente da Câmara, Walter Chicharro, convicto que a certificação pode garantir “visibilidade comunicacional” e contribuir para afirmar a iguaria “no panorama nacional e internacional”.
O primeiro passo terá sido dado por uma família que está há três gerações na atividade. Com a criação da marca Maria da Nazaré em maio do ano passado, Samuel Fialho e Inês Fialho quiseram homenagear a avó e valorizar a tradição.
A mãe, Isaura Fialho, é quem lidera o negócio, que passou a contar com uma nova embalagem de uma unidade, dirigida aos turistas, com preço variável entre um euro e euro e meio.
Segundo Inês Fialho, “as vendas aumentaram consideravelmente”, mas a prioridade continua a ser “servir os restaurantes e iniciar a exportação”.
O hábito de secar o pescado em excesso, tipicamente carapau, cação e pescada pequena, é antigo na Nazaré e está relacionado com a necessidade de aprovisionamento para o inverno quando não existia acesso a refrigeração.
Depois de preparado, o peixe é embebido em três águas com sal e seco ao sol. A atividade continua a ser realizada diariamente por cerca de uma dezena de mulheres, no estendal, um dos ícones culturais do concelho e um dos focos de atenção para o turismo, localizado na zona sul da praia. Também comercializam nos mercados da região.
A requalificação dos paneiros – que constituem o estendal – durante o próximo ano é um dos objetivos do Município da Nazaré, que pretende melhorar as condições de trabalho das peixeiras. Ao mesmo tempo, a autarquia planeia criar espaços para a preparação do pescado no edifício da antiga lota. A ideia é contribuir para a preservação da tradição através de um museu vivo que funcione como atração turística.
“O projeto liga a vertente cultural e identitária à vertente económica e é nossa intenção submetê-lo a fundos comunitários”, explica Walter Chicharro, que conta com a adesão dos restaurantes e dos hotéis a este projeto, através da inclusão de receitas com peixe seco nas respetivas ementas.
Cláudio Garcia
claudio.garcia@regiaodeleiria.pt
(Notícia publicada na edição de 28 de agosto de 2014)