A multidão contorna, em grande azáfama, os expositores à procura dos doces mais apetecíveis. Estamos na XVI Mostra Internacional de Doces e Licores Conventuais onde é impossível vencer a batalha contra a gula, o pecado que voltou a tomar conta do Mosteiro de Alcobaça entre 13 e 16 de novembro.
Ovos e açúcar inspiram estas tentações, mas há outros ingredientes tão ou mais importantes. “O segredo é fazermos os doces com muito carinho, paixão e dedicação”, conta Paula Alves, da Pastelaria Alcôa, de Alcobaça. Às receitas há que juntar produtos de qualidade.
“A forma como o pasteleiro trabalha a receita e uma boa matéria-prima dão um bom produto final”, diz Maria de Lurdes Honório, da Padaria do Marquês, primeiro prémio dos doces conventuais deste ano. A confeção da calda é crucial, sublinha Ana Branco, do restaurante António Padeiro. “É um ritual feito à mão, que parte quase sempre de uma base de calda de açúcar para a qual é preciso paciência e experiência”.
Catarina observa os doces de olhos arregalados. Aos 8 anos, estreia-se na mostra com os avós. “Sou muito gulosa mas sou intolerante à farinha e há muitas coisas que não posso comer. Mas vou aproveitar para provar muitos doces”. Tem sorte: segundo especialistas, um bom doce conventual não tem farinha mas sim amêndoa, pinhão e outros frutos secos.
Quem ainda não elegeu os doces preferidos ou visita pela primeira vez a mostra, opta normalmente por provar os premiados – também por isso habitualmente os produtos mais vendidos. Este ano foram cerca de 50 mil os visitantes que não resistiram à atração da Mostra Internacional de Doces e Licores Conventuais.
Segundo Vasco Gomes, da empresa David Pinto & Companhia, distinguida com o prémio de melhor licor, com a Ginja “MSR” de Alcobaça, tanto o prémio como todo o certame relembram a responsabilidade em manter viva as marcas identitárias de Alcobaça, capital da doçaria conventual.
Na Sala das Conclusões juntaram-se as comunidades religiosas. “A nível espiritual e emocional é muito importante estar num Mosteiro da nossa Ordem, onde houve vida de oração e trabalho dos monges”, diz a Irmã Maria da Conceição, uma das monjas cistercienses de S. Bento de Porta Aberta que aproveitaram o certame para dar a conhecer as mais de 20 variedades de compostas caseiras que produzem:
“Não podemos perder a tradição da doçaria conventual e também gostamos muito de coisas boas como os doces que fazemos”.
Já a Irmã Lúcia diz que no Convento do Louriçal conseguem resistir à gula. A razão é bem mundana: se comessem os bolos secos, biscoitos e as compotas, não tinham nada para vender.
Vencedores
Doces
1º Prémio
“Céu da Boca” da Padaria do Marquês, Leiria
Prémio Especial do Júri
“Pudim de São Bernardo” da pastelaria Alcoa, Alcobaça
Menção Honrosa
“Doce do Paraíso” do restaurante António Padeiro, e “Pudim Frades do Mosteiro de Alcobaça”, da Casa dos Doces Conventuais, ambos de Alcobaça
Licores
1º Prémio
Licor de Ginja “MSR” de David Pinto & Companhia Lda, Alcobaça
Joana Pestana
(texto e fotografias)
(Notícia publicada na edição de 20 de novembro de 2014)