Se não tem ideia de há quanto tempo remonta o Paleolítico Inferior, tente recuar 200 mil anos na história da humanidade. Consegue agora imaginar alguma presença humana em Leiria nessa época? Escavações realizadas no âmbito da construção da variante dos Capuchos revelaram, no final de outubro, vestígios que atestam a presença humana dessa era na nossa região.
Características da Idade da Pedra Lascada, foram encontrados, num depósito de pedras, entre várias camadas geológicas, peças em sílex e quartzito, que terão sido talhadas e usadas pelo “homem das cavernas” como instrumentos de corte: “facas de cozinha” ou “talher” da época, utilizados como “armas de caça” ou para cortar carne e pele dos animais.
O local dos achados situa-se próximo do bairro do Jericó, junto ao IC2. As escavações decorreram numa área com cerca de 12 metros quadrados e a cerca de cinco a oito metros de profundidade. As pesquisas foram desenvolvidas por uma equipa de cinco pessoas, durante cerca de uma semana.
Achado importante
Segundo Pedro Ferreira, chefe da divisão de Cultura da Câmara de Leiria, trata-se de um achado importante embora não comprove a fixação de populações na zona, como seria o caso de uma fogueira.
Não existem provas de que os seixos tenham sido deixados no “terraço” onde foram encontrados, podendo ter sido resultado do arrastamento de terras.
Ainda assim, sublinha, “é um achado bastante antigo e tem correlação com outras descobertas arqueológicas realizadas na década de 80 por João Pedro Cunha Ribeiro nas freguesias de Cortes e de Maceira e nos areeiros da Gândara”, adiantou o mesmo responsável ao REGIÃO DE LEIRIA.
As peças serão agora objeto de inventariação, classificação e interpretação. Concluído o relatório, no prazo máximo de dois anos, deverão regressar a Leiria, onde poderão ser expostas.
No decorrer das obras da variante dos Capuchos, foram ainda encontrados estruturas rurais – muretes – do século XVII em terrenos contíguos ao convento dos Capuchos, “sem valor patrimonial”, provavelmente associados ao controle dos taludes e aproveitamento agrícola dos socalcos ali existentes.
Há ainda vestígios de duas fossas, que já no período Neolítico eram abertas na terra para colocar detritos. “Encontrámos indícios de matéria orgânica que desapareceu e alguma cerâmica manual que não conseguimos datar. Percebe-se que sejam de ocupação humana mas não foram conclusivas quanto à época”.
Martine Rainho
martine.rainho@regiaodeleiria.pt