Dezenas de camiões cruzam todos os dias o Pinhal de Leiria. É um vai e vem de ferro-velho com destino e origem numa empresa no concelho de Alcobaça, na fronteira com a Marinha Grande. Esse trânsito de pesados deixa marcas: há muitos e profundos buracos na estrada e qualquer viatura ligeira tem já dificuldade em chegar intacta ao Tremelgo.
“Os camiões destruíram totalmente este acesso e já estão a destruir um outro a poente, a 400 metros daqui”, explica, junto ao monumental eucalipto que está à beira da estrada do Tremelgo, Gabriel Roldão, apaixonado e estudioso do Pinhal de Leiria.
A presidente da Junta de Freguesia da Marinha Grande classifica a situação como “extremamente preocupante”. “Moram ali pessoas que não têm acesso às suas próprias casas. Além disso, é uma vergonha para quem nos visita”, sublinha Isabel Freitas, assumindo a disponibilidade da junta para colaborar numa solução:
“A Câmara da Marinha Grande contactou-nos há dois anos para virmos dar uma ajudinha se houvesse a decisão de reparar a estrada. A junta está disponível, mas da parte dos serviços florestais não há vontade. Dizem-nos que só se pode arranjar a estrada se não se cortarem raízes das árvores! Assim, como podemos recuperar a estrada?”.
Fonte do Instituto Nacional da Conservação das Florestas – que tem jurisdição sobre os acessos – disse ao REGIÃO DE LEIRIA não poder comentar sem autorização do Ministério do Ambiente. Mas o problema e as causas estão identificadas. Até ao fecho desta edição, a Câmara Municipal da Marinha Grande não tinha respondido a um pedido de esclarecimento.
Falta manutenção
Isabel Freitas lamenta ainda o estado geral de conservação do parque do Tremelgo, um dos espaços mais famosos do Pinhal de Leiria. “Ainda há lá árvores lindíssimas e seculares. É uma maravilha mas é triste e lamentável que esteja naquelas condições”.
Gabriel Roldão critica a manutenção do parque: “Está ao abandono total. Toda a zona está degradada, não tem intervenção da mão do homem na limpeza, tratamento de árvores e ajardinamento. Só a folhagem que vai caindo e faz o tapete do chão é que vai mantendo o aspecto ordenado”.
O investigador salienta que “as pessoas que estão nos Serviços Florestais são competentíssimas e têm uma paixão enorme pelo pinhal”, mas “não têm orçamento da parte do poder central”. A pouco e pouco perde-se o património natural do Tremelgo.
“Isto já foi quase um jardim botânico para o Pinhal de Leiria. Daqui saíram árvores para todo o lado no país. Está degradado e quase perdido, mas se houver vontade pode ser recuperado”, refere.
Manuel Leiria
manuel.leiria@regiaodeleiria.pt
(Notícia publicada na edição de 11 de dezembro de 2014)