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António Reis: “Queremos ter, pelo menos, um clube em cada concelho do distrito”

Associação Distrital de Atletismo de Leiria bateu o recorde de atletas federados e quer continuar a crescer. Ultrapassar os dois mil atletas é objetivo da atual direção. Presidente está disponível para novo mandato

MG

Correr é um vício?
Sim. Vais fazer uma prova, depois outra e andamos nisto quase todos os fins de semana. Fazemo-lo por gosto, por responsabilidade e sempre que há disponibilidade, estamos lá.

Assumiu a direção da ADAL (Associação Distrital de Atletismo de Leiria) há dez anos. Como é que surgiu esse convite?
Estava no conselho de arbitragem e o Aníbal Carvalho achou que o tempo dele na ADAL estava a terminar. Lançou-me o desafio e, a muito custo, aceitei, porque era uma herança muito pesada, que já vinha da Alzira Monteiro e depois do Aníbal Carvalho. Era necessário dar continuidade ao trabalho deles.

Nestes anos, fruto dessa continuidade, a ADAL cresceu, em número de praticantes, de clubes…
Sim, o atletismo está diferente do que era há 10 anos. Tem existido uma evolução na modalidade, natural do tempo e das tecnologias, e temos acompanhado essa evolução. O mesmo número de praticantes sofreu um grande crescimento, muito por causa do trail, embora o nosso trabalho de pista também tenha crescido. E até pela exigência das provas todos os fins de semana. São muitos campeonatos, são muitas provas em todo o distrito.

A pista coberta de Pombal, na Expocentro, traz também o desafio das provas nacionais?
Para além das nossas provas, temos os campeonatos nacionais, o que obriga a que, muitas vezes, as provas distritais aconteçam durante a semana. Só assim podemos dar condições aos nossos atletas.

O que é que a realização dos campeonatos nacionais exige à ADAL?
Independentemente de a prova ser distrital ou nacional, o nosso tratamento é igual para todas. Há um regulamento, há funções devidamente estabelecidas, mas nos nacionais são necessários mais elementos eletrónicos. Os juízes devem rondar a meia centena, a maioria da ADAL, mas também contamos com ajuda de juízes das associações de Lisboa ou de Coimbra, porque é complicado ter todos os fins de semana, ao sábado e domingo, de dezembro a março, ocupados, que é quando a pista coberta está em atividade. Para além das outras provas de estrada, trail, … Somos, se calhar, o distrito ou um dos distritos com mais dinamismo de provas de atletismo. Ao nível das competições, em Leiria, temos um calendário competitivo muito exigente. Talvez Lisboa consiga fazer mais provas do que nós e, mesmo assim, às vezes tenho essa dúvida.

A região é também rica em infraestruturas. Além da pista coberta de Pombal, temos também o estádio de Leiria, o estádio da Marinha, de Pombal, de Caldas da Rainha, de Óbidos, um centro de lançamentos,… Que vantagens podemos tirar de todos estes equipamentos? Estão devidamente aproveitados?
Neste momento, há muitas provas em Pombal, porque Pombal é um município que nos abre as portas. É fácil fazer lá provas, é fácil adiar um jogo de futebol para organizarmos lá uma prova. Já nas outras pistas, não funciona assim. Temos a pista de Caldas da Rainha que recentemente foi requalificada, mas, neste momento, não tem material para se possa fazer competição, apenas dá para usar a pista. Também vamos muitas vezes para a Marinha Grande. Em Leiria, conseguimos fazer provas no final da época do futebol, porque até lá…

Não conseguem fazer provas enquanto decorrem os campeonatos de futebol?
Não podemos fazer qualquer uso para provas durante o campeonato de futebol.

Durante muitos anos, a pista do estádio de Leiria era considerada como uma das melhores da Europa…
E continua a ser uma das melhores.

Então, porque é que as entidades não olham para ela como sendo uma das melhores e trazem provas para cá?
Neste momento temos a União de Leiria, que está a fazer um excelente trabalho, com muito marketing, e o município tem acompanhado. Basta ver como é que as instalações [do estádio] estão pintadas. É tudo com União de Leiria e sobrepõe-se aos restantes [clubes]. Há dois anos tivemos em causa uma prova internacional de lançamentos, marcada com muita antecedência, por causa de um jogo de futebol da III divisão nacional. Fomos obrigados a mudar o programa-horário, por causa desse jogo. Isso mostra a dimensão do futebol comparada com a do atletismo.

Deu o exemplo da pista de Caldas da Rainha, que foi requalificada, mas que não tem material. Outras pistas que não foram requalificadas e outras, que até têm o material, mas não são opção. Há falta de reconhecimento, por parte das entidades públicas, sobre a importância do atletismo?
Penso que não podemos dizer isso assim, porque o atletismo é até um desporto da moda. Basta ir ao Polis e ver as pessoas que estão a correr, a caminhar, mas os grandes eventos implicam uma disponibilidade grande. Depois temos o atletismo federado, que é outra vertente. E quando os atletas são convidados para vir para o atletismo federado, eles pensam que só é federado quem é campeão. É uma ideia errada. Todos podem vir para o atletismo federado e têm vantagens: fazem um exame médico, que permite um despiste à condição física – já tivemos atletas federados que tinham problemas de saúde que foram detetados graças a esse exame -, têm o seguro, e podem participar nas provas de pista da ADAL a custo zero, além das entradas gratuitas para a pista do estádio.

A filiação ajuda também a aumentar o associativismo, ingrediente fundamental para muitos destes projetos.
Conjugam-se todos os interesses. Cresce o associativismo, é mais fácil ter companhia para praticar a modalidade, há mais praticantes registados.

O mandato da direção da ADAL termina em novembro. Já decidiu se vai avançar para novo mandato?
Já conversei em casa e, em princípio, ainda não dei conhecimento à direção, porque ainda não reunimos, vou continuar, se não aparecerem outras candidaturas.

O que é que gostava de concretizar, que não foi possível nos últimos mandatos?
É um desejo meu e do nosso técnico, do Carlos Carmino, ter, pelo menos, um clube em cada concelho do distrito. Neste momento, não temos em Castanheira de Pera, em Pedrógão Grande e em Figueiró dos Vinhos. Queremos também ultrapassar os dois mil atletas federados na ADAL.

Quantos atletas tem a ADAL?
Esta época chegámos aos 1.675 atletas federados e 55 clubes, números recorde. Em 2008 eram 1.400 atletas. Recuperámos os números pré-pandemia e ultrapassámos. O maior número [de atletas federados] é no escalão dos veteranos, aquele pessoal que andou no atletismo, se afastou e agora está a regressar, muito por causa dos nossos circuitos, de meio-fundo e de treino. Eles estão para ser, estão-se a federar. Passámos de 410 para 551 na última época.

E na formação?
Temos 338 benjamins, 163 em infantis, 155 em iniciados e 124 juvenis. Nos juniores, os sub20, aumentámos muito, de 87 para 130, num escalão que é difícil de manter, porque é aquela altura em que os jovens entram na faculdade e afastam-se da competição. E os seniores com 214.

Leiria tem tido várias participações de atletas de formação em provas nacionais e internacionais. Que balanço faz da participação do Europeu sub18 ou do mundial sub20, por exemplo?
Todos eles fizeram praticamente as marcas que tinham quando foram para lá. É difícil exigir mais, só o facto de estarem presentes, terem marca de referência para ir a um Europeu ou Mundial, para a ADAL, já é um orgulho. Mesmo atletas que são da região e que agora representam outros clubes e associações, não deixa de ser um orgulho. É pena eles terem de sair para clubes que lhes dão outras regalias, que os nossos clubes não conseguem dar. Há exemplos, a Ana Cabecinha e a Inês Henriques, nunca saíram do seu concelho para competir, porque os clubes ajudam, e os municípios também apoiam e, se calhar, seguram os atletas. Isso faz falta no atletismo e noutras modalidades. A Juventude Vidigalense é o maior clube de atletismo a nível nacional.

Terminado o ciclo olímpico, em outubro, haverá eleições na Federação Portuguesa de Atletismo. Três candidatos, Paulo Bernando, com fortes ligações à região e que está na estrutura da Federação, Domingos Castro, que anunciou a criação de uma casa de seleções na Marinha Grande se for vencedor, e Fernando Tavares que também é vice-presidente da Federação. A ADAL já fez a sua escolha?
Há candidaturas de continuidade e a candidatura do Domingos Castro que é um projeto novo. A ADAL ainda não decidiu. Fomos convidados a ir à apresentação das campanhas de Domingos Castro e do Paulo Bernardo, e fomos, mas demos conhecimento o voto não estava definido. Queremos receber os candidatos na sede da Associação, já temos datas marcadas para os receber e, depois de ver o projeto que têm para apresentar, é que vamos decidir qual é o melhor projeto, para o atletismo distrital, para o atletismo nacional.

Sempre pelo melhor do atletismo?
Pelo melhor do atletismo. O nosso objetivo é mesmo esse, para ter um atletismo sustentável e para ver resultados, porque depois vê-se nas grandes competições. Há muito trabalho da Federação, muito trabalho dos clubes, especialmente dos clubes.

Para quem está agora a regressar de férias e a pensar em praticar uma modalidade, imagino que o atletismo esteja de portas abertas. Quer deixar algum convite para um praticante mais indeciso?
A associação está sempre de portas abertas para receber qualquer tipo de atleta que queira fazer o atletismo de forma regular ou de forma pontual. Há vários clubes associados, distribuídos pelos concelhos, e às vezes é mais fácil entrar na associação através de um clube, mas podem o podem fazer como individuais. Isto é quase dos zero aos noventa anos.

PERFIL

António Reis tem 49 anos e está há dez à frente da Associação Distrital de Atletismo de Leiria (ADAL). Começou a correr, em estrada, aos 6 anos, por influência do pai, António Sousa dos Reis. Representou o GRAP/Pousos, Bairro dos Anjos, Maratona Clube de Leiria e Clube de Atletismo da Barreira, todos os Leiria. Deixou a prática do atletismo quando ingressou na Polícia de Segurança Pública, mas não desistiu da modalidade e dedicou-se à arbitragem. Em novembro, a ADAL vai a eleições e António Reis diz estar disponível para realizar novo mandato.