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Lobo frontal: A criatividade produtiva

Pedro Oliveira: “É obrigatório olhar para o mundo e conseguir ver o que ainda não está lá. Mais, para uma actividade profissional baseada na criatividade não há horário de entrada e de saída, não há dia e noite, é sempre em modo: on”

 

poliveira@sistema4.pt

 

“Sou muito criativo!”. Este tem sido o argumento-ás-de-trunfo que mais vezes tenho escutado ao longo destes mais de 25 anos de contacto com jovens recém-licenciados, em início de carreira, sobretudo da área do marketing e do design. Normalmente, serve como palavra-chave para abrir o leque de competências recém-adquiridas, mas também é usado para fechar o lote de promessas. Aliás, é muito lógico que isto aconteça, pois sem essa mais-valia, profissionalmente, todos os conhecimentos e ferramentas adquiridos de pouco irão valer. Até aqui tudo certo.

Na minha opinião, não sendo um requisito obrigatório para se ser um bom profissional em muitas actividades, a criatividade é uma característica que pode ser sempre útil, sobretudo na resolução de problemas novos. Por outro lado, em profissões ligadas à comunicação, à publicidade, ao marketing ou ao design, a criatividade é imprescindível e obrigatória.

A criatividade, enquanto faculdade exclusiva do ser humano (até ver), tem inúmeras definições, mais ou menos filosóficas, mais ou menos românticas, consoante o autor e a sua perspectiva da vida e do mundo. No limite, sendo uma função da mente humana, todos poderemos ser mais ou menos criativos. Porém, tenho para mim, que o uso dessa capacidade como factor central de uma actividade profissional, só por si, não chega.

Gosto particularmente da definição que resume a criatividade à capacidade inata de um indivíduo memorizar e relacionar tudo o que o rodeia, e a sua relação activa com esses estímulos. Por outras palavras, juntar a curiosidade sem limites à vontade insaciável de partilhar a sua visão própria e potencialmente única.

Curiosamente, por brincadeira e em modo grafiti, há cerca de quinze anos escrevi numa parede do meu local de trabalho a seguinte frase: “Criar é mergulhar fundo no poço das ideias e voltar com uma que não estava lá.”. Nessa altura, a ideia era mais para servir de estímulo ao ambiente criativo, do que uma possível definição do caminho para o processo criativo. Contudo, cada vez, estou mais convicto que aquela frase define um processo incontornável do acto criativo nos nossos dias. Hoje, com a facilidade de pesquisa e de acesso a milhões de conceitos, ideias, soluções ou exemplos, por incrível que pareça, pode tornar-se ainda mais difícil o desenvolvimento de um pensamento verdadeiramente criativo. E sim, isto é verdade. Se por um lado o acesso facilitado pode condicionar a originalidade do acto criativo, ao ignorar a existência do que o resto do mundo produz, só com muita sorte se poderá criar alguma coisa original e que não tenha já sido desenvolvida por alguém do outro lado do mundo ou da rua ao lado.

Posto isto, considero que, actualmente, a base para o desenvolvimento do processo criativo orientado para resultados assenta não só na potencialidade que um indivíduo terá para ler o mundo de forma disruptiva, mas também na curiosidade quase obsessiva sobre a compreensão e entendimento de tudo o que o rodeia. É esta fusão mágica que, invariavelmente, dá origem a excelentes ideias e a conceitos que fazem a diferença.

Concluindo, ser criativo e com isso poder ganhar a vida dá imenso trabalho. É fundamental gostar de tudo e querer experimentar tudo, e é também necessária a experiência acumulada. Depois, sim, é obrigatório olhar para o mundo e conseguir ver o que ainda não está lá. Mais, para uma actividade profissional baseada na criatividade não há horário de entrada e de saída, não há dia e noite, é sempre em modo: on.

Ser apenas criativo não basta. A criatividade orientada para resultados requer muita paixão e dá muito, muito trabalho.

Nota: Lobo Frontal é um espaço de opinião que pretende partilhar perspectivas pessoais acumuladas nestes mais de vinte e cinco anos de trabalho de projectos de comunicação e marketing, sobretudo da região, e não tanto como fundamento técnico para uso académico ou profissional.

O autor escreve ao abrigo do antigo acordo ortográfico.