Andamos todos um bocado atrapalhados com a tarefa de existir. Talvez seja por termos crescido. Ou envelhecido. Ou porque o mundo, ele próprio, se tornou mais complicado.
Também ele cresceu. Fragmentou-se. Multiplicou realidades e dividiu-se em espaços, minorias, opiniões, pontos de vista, numa cultura plural que pretende dar voz a todos os que a reclamam. E nós ouvimos todas as vozes. Narrativas e metanarrativas. Relatos. Ângulos. Interpretações. Sound bites. Sons que se transformam no ruído de um mundo onde muita coisa é e nada parece ser inteiramente. E nós, sem mapa nem bússola para navegar neste universo, desorientamo-nos. E, talvez por termos crescido ou por sermos mais velhos (velhos demais), atrapalhámo-nos com a vida. Fragmentámo-nos, multiplicámo-nos e dividimo-nos. Dispersámos. Criámos narrativas flutuantes de nós, recriações do que vamos sendo e sentindo ao sabor dos sentidos que o mundo nos dá.
Perdemos norte. Perdemos rumo. Deixámos de saber o que somos e queremos. Ou então deixámos de saber como lá chegar. E se lá chegamos, há sempre outra coisa a querer ou a ser, outra narrativa a construir. Deixámo-nos emaranhar pela vida e pelo mundo e a vida e o mundo, agora, apertaram-nos os fios. E nós esbracejamos, atrapalhados, esquecidos que, se calhar, apenas na quietude e no silêncio conseguiremos encontrar as pontas dos fios que nos prendem.
(texto publicado a 16 de novembro de 2012)