Num momento em que a democracia enquanto sistema político atravessa uma profunda crise de credibilidade e sustentabilidade é natural que um dos seus pilares, a informação livre, sofra o mesmo destino.
Na realidade são interdependentes: só há informação livre em sistemas democráticos e só há democracia saudável quando a circulação da informação é livre. Isso não significa que tenham uma relação pacífica. Nem transparente. Como sabemos não o ser a relação entre qualquer poder e os restantes, sejam o legislativo, o executivo ou o judicial. Em todos, a opacidade dos interesses privados se sobrepõe com frequência à independência com que devem servir o público. Os media não estão isentos de responsabilidades. Tendo como missão informar os cidadãos e formar uma opinião pública consciente e crítica, sujeitaram-se muitas vezes a outros interesses, a compromissos com fontes a troco de notícias, com grupos económicos a troco de publicidade e até com a qualidade a troco de público. Mas as recentes notícias de fechos, despedimentos, cortes orçamentais e vendas a grupos anónimos angolanos que atingem órgãos de comunicação credíveis como a Lusa, o Público, a TSF, a RTP mostram que, de todos os poderes, a comunicação social é o mais frágil. Quando a democracia treme o bom jornalismo cai. Mas quando o bom jornalismo tiver desaparecido não haverá salvação para a democracia.
(texto publicado a 26 de outubro de 2012)