Apenas uma coisa nos assusta tanto como o fim: a incapacidade de prever o futuro. E, talvez por isso, tentamos combater o fluir contínuo do tempo com contagens circulares que eterna e sucessivamente nos trazem de volta ao início.
Minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos, milénios. Estes eternos retornos permitem conter a imprevisibilidade do futuro em rotinas, hábitos e tradições, rituais de repetição para os quais temos comportamentos e emoções expectáveis. Dividimos o tempo em momentos de trabalho e de descanso, de celebração e de luta, em épocas de fraternidade e folia. Em estações que perpetuamente se sucedem. Organizamos a vida em ciclos, em que o fim é apenas o regresso ao princípio. E a cada 365 dias (ou 366), reiniciamos. Estreamos um novo ano. Voltamos ao ponto de partida. Renovamos. A cada 365 dias reavivamos a fé em nós e no futuro. Refazemos promessas e desejos. A cada 365 dias, ainda que por um segundo, acreditamos que as forças que fazem mover o universo poderão proteger-nos. Que o futuro será melhor. Que conseguiremos evitar o mal. E que o tempo continuará a fluir em ciclos, em inícios e fins, em partidas e regressos, em sucessivos retornos que nos permitem relançar os dados do destino e esperar que nos saia o melhor de nós. Ou, pelo menos, que encontremos a sabedoria para viver o melhor dos dias. Bom ano.
(texto publicado a 28 de dezembro de 2012)