Setembro é um mês melancólico. A melancolia é como uma meia luz, um quase anoitecer. Não é uma dor aguda. É antes uma espécie de tristeza, uma nostalgia, uma saudade de dias calmos, grandes e luminosos. Mas a vida anoitece em cada fim de tarde. Anoitece em cada outono e às vezes na primavera e no verão. Anoitece em cada regresso ao quotidiano, em cada medida do Governo, em cada tristeza ou mágoa, em cada medo ou indecisão. E esquecemo-nos muitas vezes que a cada um destes anoiteceres se sucederá um amanhecer.
Podemos amanhecer na vida dos outros e nas pessoas que entretecem a nossa vida. Podemos amanhecer em projetos, na descoberta de novas coisas que nos sustentem, desafiem e obriguem a continuar a marcha. Podemos amanhecer num olhar, num gesto ou num sorriso ou apenas na esperança de que o dia seja de sol. Poderemos amanhecer porque a história nos mostra que a uma má conjuntura se seguirá outra melhor. Podemos amanhecer simplesmente porque estamos vivos, e porque a vida nos obriga a isso.
Mais importante do que o destino ou o sentido é continuar em movimento. E não podemos depender apenas do vento ou da brisa para nos mover, nem deixar que a melancolia, esse entardecer da alma, se instale e nos escureça. Porque sabemos que antes de setembro do próximo ano voltaremos a ter dias grandes e luminosos. E não precisam de ser no verão.
(texto publicado a 14 de setembro de 2012)
joão rocha marques disse:
gostei seu artigo. você é leiriense ? que familia ? é escritora ? sou leiriense há muitos anos fora leiria.gostraria contactos diretos sobre nossa cidade. conhece alda sales ? ela é viva ?
cordiais saudações. lusíadas.
joão rocha marques.