Temos assistido ao êxodo crescente de médicos, incluindo especialistas de Medicina Geral e Familiar, do Serviço Nacional de Saúde. Uns por aposentação e outros por optarem por sair da função pública, ou até pela emigração. A rigidez e o desrespeito da tutela, o excesso de burocracia, a falta de material e equipamento nas unidades, as carreiras e salários completamente desfasados da realidade, entre outros, são factores que os vão afastando. Em algumas zonas do país, é desolador o cenário de centros de saúde sem médicos. Aqui no nosso próprio ACeS (Agrupamento de Centros de Saúde), Pinhal Litoral, que abrange os concelhos de Leiria, Pombal, Marinha Grande, Batalha e Porto de Mós, abriram 41 vagas no último concurso de recrutamento médico, e apenas sete foram escolhidas, deixando 75 mil utentes sem médico de família! E trata-se de uma zona geográfica e socio-económica extremamente aprazível.
Denise Cunha Velho
Médica, presidente do Conselho Clínico e de Saúde do ACeS Pinhal Litoral
Exclusivo27 de Agosto de 2023
A Saúde em Leiria
Precisamos de importar médicos de fora? Não! O nosso Governo devia valorizar e preocupar-se mais com os médicos que já cá tem no país.
Valerio Puccini disse:
Santas palavras da Médica Denise Cunha Velho, todas assinadas. Esta situação lembra muito o que acontece no meu país, a Itália, de onde os médicos se mudam para a Suíça, por exemplo, porque recebem muito mais e, em todo o caso, estão muito mais bem equipados.
Claro que a situação económica geral que luta para encontrar os recursos necessários, não ajuda. Certamente o aumento da pressão migratória que acaba por sobrecarregar o Serviço Nacional de Saúde nivelando os serviços para baixo. E por isso aumentam as listas de espera, bem como o número de cidadãos sem médico de família.
Duas considerações. A primeira diz respeito aos tempos de espera nos hospitais privados afiliados ao SNS. Lista de espera única para exames e consultas, para quem paga o serviço na íntegra e para quem não paga, porque tem o pedido do médico de família. Na minha opinião, uma escolha que não traz eficiência porque também induz quem poderia pagar a pedir a prestação ao médico de família, dado que a espera será a mesma. Positivo? Eu acho que não.
A segunda diz respeito aos médicos que chegariam do exterior, de Cuba e/ou de outros países sul-americanos.
Podemos estar razoavelmente confiantes de que os médicos formados nos países mais pobres, menos equipados e com serviços deficientes, podem garantir serviços de qualidade nos países mais desenvolvidos e organizados? Será que ainda se mantém o mito da excelência de Cuba, País onde as pessoas ainda lutam para combinar o almoço com o jantar?
Peço desculpa pela linguagem directa, mas a intenção é apenas sublinhar que a solução está, precisamente, dentro do país e não fora.
Então: – quem não pode pagar, não paga. Quem pode pagar, pague – Ajudando assim a melhorar o serviço para todos. Estabelecer um canal para pagadores com listas de espera dedicadas, ajudando assim a agilizar as listas de espera também com pedidos do SNS. Quanto mais dinheiro entrar nos cofres do SNS, melhor desempenho para todos. Basicamente, vendo um serviço a quem pode pagar e ao mesmo tempo melhoro as garantias de quem não pode pagar. Uma relação comercial normal no contexto de uma sociedade mercantil moderna.
Como resultado, os médicos podem ser melhor remunerados, tornando finalmente esse caminho atraente para as novas gerações. Os jovens voltariam a ter interesse em seguir esta profissão, de interesse estratégico para um país.
Um resultado, portanto, que recompensaria todos, agilizando as listas de espera. Devolvendo valor à categoria de médicos. Recuperando um curso de estudo no interesse dos jovens. Trazendo assim benefícios para todo o serviço nacional de saúde. Em suma, uma situação “win-win” como se diz hoje em dia.