22 de outubro de 2020, aqui estou eu a publicar mais uma crónica no REGIÃO DE LEIRIA, que este mês comemora 85 anos de persistência e empreendedorismo. Embora meio infiltrada, é uma honra e um privilégio fazer parte desta equipa. O que vocês não sabem, e o diretor também não, é que o meu affair com este jornal começou na terra do “Dragão”, no final da década de 90, e é feito de muita tinta e pixels à mistura.
Era eu estudante de Design de Comunicação na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, quando um dos professores do curso, Eduardo Aires, alterou o grafismo e imagem do semanário. A minha amiga Sónia, leiriense e colega de licenciatura, ofereceu-me um exemplar e essa foi a primeira vez que folheei as páginas onde hoje escrevo, um hábito que nem a alergia aos ácaros do papel me tirou (valha-me a vacina mensal).
Concentrada no “ABC do ponto”, na psicologia da cor e em outros papéis de cenário, prossegui alegremente de “andante” na mão pelas ruas da Invicta; sem dar a menor atenção às ocorrências anteriores. Contudo, como as nuvens não chovem só no quintal do vizinho, a pintura esborratou-se com a perspetiva de me mudar para Leiria. Nessa altura, mesmo antes da Patrícia Duarte saber que as iria escrever, fiz minhas as palavras da diretora-adjunta desta publicação. “Queres conhecer uma terra? Lê a sua imprensa”. Tornei-me assinante. Semanalmente, a “cidade do Lis” passou a desaguar no Porto, devidamente embalada e depositada na minha caixa de correio – a original de chapa, com o andar inscrito.
Em 2007, para desassossego de alguns, a “profecia” cumpriu-se. Cá cheguei, apenas acompanhada por “armas e bagagens”. Nos anos seguintes, o tipo que é casado comigo continuou a renovar a assinatura, na tentativa de “pelos olhos da proximidade” perceber o que a médio prazo o esperava por estes lados. Coincidência, ou não, pelo caminho fui-me cruzando profissionalmente com o REGIÃO DE LEIRIA: desde a contratação de publicidade, criação e envio de anúncios à inauguração do Fórum Emprego e Formação, entre outras situações.
Na noite de *2 de janeiro de 2019, de acordo com o meu calendário pessoal*, estava a meio de uma urgência melancólica e, assim do nada, vi interrompida a alucinante envergadura dos objetivos irreais determinados para os próximos 12 meses. “Plim”, “plim”,”plim”! ………………………………. (*bem sei que os jornalistas gostam pouco ou nada de alterar os factos, especialmente os eventos instituídos. Mal estaríamos se fosse diferente, assim, perdoem-me a blasfémia. Para mim o carnaval acontece nas últimas horas de dezembro, e nas seguintes. Preventivamente, escolho essa data para me divertir como se o mundo fosse acabar e adio ligeiramente os tradicionais pensamentos de “ano novo”) ………………………………….. ……”Plim”, “plim”, assim do nada. “Antes de tomar qualquer decisão importante, vou reativar o ‘não incomodar’ do telemóvel ou mudar para uma vibração mais ‘zen’. Raio de som tão insuficiente, falta-lhe aprender a gritar ou simplesmente calar-se!”, protestei em voz muda. Por acaso e curiosidade, dei uma diagonal para ver o que andava a fazer “plim”, “plim”. “Pronta para começar a escrever no REGIÃO DE LEIRIA?”. Senti uma pausa nos grilos. “Enganou-se. É melhor avisá-la”. Mas aquilo era mesmo para mim. “Olha, eu!?” Ventilei um bocado, com o peso da responsabilidade e a tentação de me desviar com um cortês “ando mesmo sem tempo, não vai dar” (o que em nada ofenderia a verdade). No entanto, um dos meus grilos advertiu-me “não sejas mariquinhas e aceita, eles desistem num instantinho”. Como é natural em mim (ahahahahahah), obedeci e é o que se lê. Desconfio é que o Francisco Rebelo dos Santos tem andado demasiado ocupado para me despachar e vai deixando andar na esperança de que eu me esqueça de enviar o texto.
Em clara sintonia com a evolução da sociedade, o REGIÃO DE LEIRIA reinventou-se e está diferente, até me convidou para instalar o caos nas entrelinhas. Teve a capacidade de acompanhar os desafios incontornáveis da transformação digital sem roubar ao público o prazer de continuar a sentir a informação nas mãos, dobrar os cantos e deixar cair umas gotas de café nas páginas. Adaptou a “embalagem” aos canais online e às exigências dos novos leitores, sem esquecer os antigos, porque sim, tal como um livro, um jornal existe para ser lido.
A minha é só mais uma entre as histórias onde o REGIÃO DE LEIRIA serve de pretexto para refletir, conversar, debater e discordar. Facilmente, imagino tantas outras, por exemplo, em tabernas e cafés de aldeias e vilas, onde as pessoas que só veem computadores “ao vivo” nas juntas de freguesia e nas mãos dos netos (nas raras visitas lá a casa), se encontram e sentem mais próximas da vida.
Prometi que não iria escrever um relatório de datas… O que fazer!? PARABÉNS! RL