— Vamos levantar e ver quem apanha primeiro o papá!?
— Os estores ainda não acordaram, estamos muito melhor aqui, a dar “mimi” e a fazer tendas com pés e lençóis.
— Tu não existes… Nem parece que só tens três anos.
— Existo, existo! Primeiro morei na tua barriga, depois dei um pontapé e pum… Nasci linda que dói e fofa demais®!
— Foi quase assim 🙂
— Dooooooida!!! Olha, o teu cabelo está a andar de baloiço, todo no ar. É normal?
— Depende dos olhos de quem vê e veste os caracóis despenteados.
— Dantes tinhas uma peruca?
— Ehehehehe ehehehe, mais ou menos. Em vez de ser irreverente só por dentro, resolvi assumir-me como “curly girl” e passei a ser selvagem também por fora.
— Aiaiaiai ai, sempre a tentar!
— Onde é que eu já ouvi isto?
— Sabes? Vou acender a nuvem para ver melhor o Avô Quico lá no céu. Ele fugiu e está a cantar poesia às estrelinhas, naquelas línguas esquisitas. É para elas não terem medo do escuro.
— Sim, linda. Todas as noites lhes explica que a saudade dói, arranha e não sai com lixívia, é como as rosas, o álcool e a falta do mar.
— Mamã, eu quero um castelo com uma varinha mágica, flores, lápis de cor e livros. Dás-me umas asas de borboleta?— Asas de borboleta?
— Pois! Quero voar longe para salvar o Avô Quico dessa coisa da saudade (silêncio e uma lágrima, duas até, no canto do olho).
— Gostas de mim?
— Adoro-te. Quando me abraças, sinto o universo inteiro na pele!
— Tu és a minha querida e somos uma família como a sementinha, precisamos de terra, água, sol, de carinho e de segredos ao ouvido.
Sandra Francisco
Gestora de Redes Sociais no Politécnico de Leiria
Exclusivo24 de Maio de 2021
Antologia do Improviso: Dás-me umas Asas de Borboleta?
Perante os flagelos que diariamente a vida nos esfrega nos olhos, e entre tanta prioridade mal gerida, urgente é dizer gosto muito de ti e valorizar aquilo que é realmente importante.