Quem não sentiu já vontade de dizer ao maquinista: “pare o comboio por favor, eu saio na próxima estação”?
O maquinista há muito que esqueceu os passageiros e tem uma única fixação: chegar à estação que uns senhores de fraque lhe impuseram. Na ânsia de querer mostrar-lhes que é capaz avança sem freio, mas engana-se constantemente nos cálculos e opções da viagem. Por vezes chega mesmo a tentar dobrar as próprias linhas férreas para que elas se ajustem às suas decisões, esquecendo que são as decisões que têm que se conformar aos trilhos. Contrariado, o maquinista culpa as linhas férreas por, afinal, serem uma certeza que se atravessa num pretendido rumo crescente de incerteza, instabilidade e precariedade. Mas o maquinista não pára. Tem que chegar à meta a qualquer preço. Veste um falso ar pesaroso para avisar os passageiros que vai ter que os esmagar ainda mais, porque a certeza se interpôs no caminho da sua teimosia, obrigando-o a dar uma volta maior e a aumentar a voracidade. Entre birras, chantagens e bodes expiatórios, a viagem prossegue cada vez mais frenética e estamos cada vez mais longe. Em nome de quê?
Bierce definiu a Economia como “a aquisição do barril de uísque de que não precisamos pelo preço da carne de vaca que não nos podemos dar ao luxo de comprar”. É em nome disto que nos esmagam.
(texto publicado a 11 de abril de 2013)