Num país onde a credibilidade se tem como sagrada, o mantra do “vivemos acima das nossas possibilidades” é repetido diariamente e a pobreza aumenta de dia para dia, não lembraria ao diabo sortear artigos de luxo a quem cumpre as suas obrigações fiscais. Ao diabo não, mas a algum iluminado do actual governo, sim.
Parece que tudo foi feito a pensar em ser moralmente condenável: sorteiam-se artigos de luxo beneficiando um único grupo económico que ainda por cima nem Português é. Tudo escolhido a dedo para não ter ponta por onde se pegue. Julgo que não era preciso pensar muito para fazer um sorteio menos odioso. Deviam ser prémios de outra natureza e podiam, por exemplo, ser premiados os municípios e/ou instituições públicas dos concelhos de origem do vendedor e do cliente.
Mas o simbolismo dessa escolha é óbvio, é o triunfo do egoísmo sobre a sociedade. Não peças factura porque isso ajuda o País, pede factura porque Tu podes ganhar um carro igual ou semelhante ao do primeiro-ministro! O tal carro que achas que ele não devia ter…
Felizmente nem tudo é mau, existe no site das Finanças a opção “Não Participo no Sorteio”. Com boa vontade podemos encará-la como uma espécie de referendo ao sorteio. Eu já activei, e o leitor?
Escrito de acordo com a antiga ortografia
(texto publicado na edição de 24 de abril de 2014)