Já o disse e volto a repeti-lo – os portugueses têm a particularidade de nunca aprenderem com a História, o mesmo é dizer, com os seus erros.
Há 120 anos atrás, depois de décadas de investimentos – período que ficará conhecido como Regeneração, Portugal vergava-se à bancarrota. Afinal, durante 30 anos, gastáramos muito mais do que era possível pagar.
O historiador não ousará fazer este exercício comparativo, mas o cronista tem mais liberdade:
– em dezembro de 1870 o jornal A Lanterna escrevia indignado: “O governo português anda mendigando em Londres um novo empréstimo. Os nossos charlatães financeiros não sabem senão estes dois métodos de governo: – empréstimos e impostos. (…) E no fim não é dinheiro aplicado a nenhum melhoramento público; é só dinheiro para pagar juros de dívida. É a dívida a endividar-nos ainda mais!”
– Ramalho Ortigão dirá ainda em 1877, n’As Farpas: “Nos últimos anos temos tido assim 40 ministérios. Os ex-ministros constituem pequenas dinastias de pretendentes constantemente ávidos de poder. Estes pretendentes quando não têm as forças necessárias para alcançar o governo procuram formar no país, por meio da sua influência burocrática, o partido que não têm na câmara e distribuem pelos seus amigos os empregos públicos”.
– Vinte e dois anos depois – na ressaca da bancarrota – o jornal Século clamava: “Grita-se contra a administração estrangeira, mas o que é certo é que os senhores banqueiros, com o Senhor Conde de Burnay à frente, vão entregando todas as grandes companhias portuguesas. Estão estrangeiros na Companhia Real dos Caminhos-de-ferro, na Companhia dos Tabacos, no Porto de Lisboa, na Companhia de Gás, etc, etc, e agora vamos tê-los na Companhia Carris de Ferro de Lisboa (…)”.
É extraordinário como em época de crise ninguém sabe como resolver a crise. Dizia-me um amigo, com razão: “Tantos economistas, tantos doutorados, tantas cabeças e ninguém tem a certeza de nada. Os paladinos do país positivo e do otimismo serôdio escondem-se agora por detrás dos imponderáveis, das variáveis económicas, da imprevisibilidade dos mercados”. De repente, todos desapareceram.
Medina Carreira bem ia avisando desde 2005. Só que muito pior que não ter razão… é ter a razão antes de tempo! E mesmo agora, que o reconhecemos, continua a incomodar-nos porque constantemente nos lembra que errámos e poucas saídas temos. Mas como diz a sabedoria popular “o que não tem remédio, remediado está”.
(texto publicado a 4 de outubro de 2012)