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Crónicas do quinto império: O quinto império

Nesta crença, o Apocalipse, o Fim do Mundo, não é um fim, mas o início de uma nova etapa …

Joaquim Ruivo, professor jruivo2@sapo.pt

O historiador Jean Delumeau, na sua obra “Mil Anos de Felicidade – Uma história do paraíso” (Ed. Terramar, 1997) diz que o “milenarismo nos traz a expetativa de um reino sobre esta Terra que seria uma espécie de paraíso terrestre reencontrado”.

Delumeau destaca num capítulo o milenarismo português, que se filia, entre outros, no pensamento do monge Joaquim de Flora e a que não é alheio a ação imperial de D. Manuel e depois o pensamento do Padre António Vieira.

O jesuíta português passará muito do seu tempo a provar que a História e as profecias do antigo testamento anunciavam um novo império, o Quinto Império, intimamente ligado à ação civilizadora dos portugueses.

Esta ideia do Quinto Império, afirmada pelo Padre António Vieira, assumida por Fernando Pessoa e continuada pelo filósofo Agostinho da Silva, coloca Portugal como destinado a conduzir os povos numa nova dimensão de liberdade, construída com uma base espiritual, mas assente na Terra.

Nesta crença, o Apocalipse, o Fim do Mundo, não é um fim, mas o início de uma nova etapa para a humanidade, um reino do Milénio, onde finalmente a humanidade viverá e progredirá em paz, em sintonia com a vontade do Criador.

Fernando Pessoa acreditará que essas profecias – onde se destaca a liderança de Portugal num novo mundo – se encontram claramente expressas nas trovas do Bandarra e nas quadras de Nostradamus.

Agostinho da Silva, à pergunta se acreditava no Quinto Império, respondeu: “É claro que acredito no Quinto Império, porque senão o ato de viver era inútil.” Mas, é claro, rematava, um império sem os clássicos imperadores, sem opressão, nem violência, sem base em terra, porque a propriedade escraviza e só não ter nos torna livres. Um Império que leve aos povos do mundo uma filosofia capaz de abranger a liberdade. “O Quinto Império será o restaurar da criança em nós e em nós a coroarmos imperador, eis aí o primeiro passo para a formação do império.”

Tal como gostava de dizer, Agostinho da Silva considerava que esta era uma filosofia que não partia imediatamente de uma reflexão sobre as ciências exatas, mas da fé.

Na realidade, concluo agora eu, só a fé para acreditarmos neste altíssimo desígnio dos portugueses e de Portugal. A Fé e depois, necessariamente, a segunda das virtudes: a Esperança.

NOTA FINAL – É tempo de renovação e, após mais de um ano de colaboração com o Região de Leiria, termino as minhas crónicas. Foi um desafio que aceitei com todo o gosto e que sempre assumi com muito agrado. Boas Festas e um Feliz 2013.

(texto publicado a 28 de dezembro de 2012)