O controverso escocês Thomas Carlyle já referia, na era vitoriana, que a principal lei da cultura era possibilitar que cada um tivesse meios para poder seguir a sua verdadeira vocação. Ainda que a maioria das pessoas não consiga ter condições para fazer aquilo em que se sente melhor, também não é menos verdade que para desempenhar uma qualquer função necessita de estudar (o que não significa ter um diploma) e praticar durante o tempo que considere necessário para adquirir as competências imprescindíveis à tarefa que se propõe.
Nos dias de hoje, faz cada vez mais sentido falar numa nova luta de classes. A dos incompetentes contra a dos competentes.
Ninguém desculpa os que fugiram e deixaram a porta aberta e a casa do avesso, mas isso não é desculpa para partir o resto das janelas e abrir buracos no telhado.
O ato de governar (um Estado, uma autarquia, uma empresa, uma associação ou uma casa) não deve ter direita nem esquerda e só pode ser o resultado de uma equação equilibrada entre racionalidade, responsabilidade e humanidade.
Nas empresas predomina a primeira, nas famílias a última, mas nenhuma das premissas diz o que quer que seja a qualquer partido com assento parlamentar.
A classe dos incompetentes julga e dita leis sem a mínima noção da vida real, e, se cultura houvesse, nenhum político o poderia ser sem uma experiência de gestão anterior (daquelas a sério) e sem uma responsabilização inerente ao cargo (daquelas que não acabam com o fim do mandato).
E sem saber o que é uma estratégia (a não ser a do cacique), o único rumo que esta classe conhece é aquele que a pode manter no poder ou, pelo menos, junto a centros de decisão.
Enquanto isso, os competentes (que tentam resgatar o país com o seu trabalho no dia-a-dia) sentem-se humanos cercados por máquinas destruidoras como num daqueles filmes de domingo. Mas têm a noção que, ao contrário da tela, aqui não há finais felizes.
(texto publicado a 21 de setembro de 2012)