A imprensa acompanha o advento da modernização das sociedades, desde o surgimento dos regimes liberais no século XIX. A informação é condição para a efectivação dos direitos do cidadão que, em última análise, se materializa na decisão política. O princípio da representação política, em que assentavam os Estados liberais, pressupunha a escolha dos eleitores e esta o acesso à informação.
A par da imprensa de vocação nacional, mais próxima dos centros de poder, surgiu desde logo uma imprensa local com a vocação de mediar relações entre as instâncias locais e aqueles centros. Em Portugal, os primeiros títulos tanto nacionais como locais surgiriam na segunda metade do século XIX, associados à consolidação do liberalismo.
A implantação e a dinâmica da imprensa local hoje têm uma dimensão histórica relevante. A projeção de alguns títulos radica na sua antiguidade. Mas outros factores pesam: técnicos, financeiros, organizativos. Como outros media, a imprensa local é sensível à diversidade e visão das elites locais, às condições mais ou menos favoráveis à descentralização e à autonomia locais. Enfim, enquanto media territorial, a imprensa local é produtora e produto de um território, integra a sua rede social e comunicacional. Se essa rede for muito lassa e pouco activa, a imprensa terá mais dificuldade de sobreviver, mas, logrando-o, pode ser uma peça decisiva da identidade do território. Pelo contrário, num território muito denso e multipolar, da imprensa local espera-se que seja o campo de experimentação e debate de que se necessita para valorizar a sua relação com o mundo global.
Em Portugal, como aliás noutros países europeus, tem havido uma manifesta dificuldade em reconhecer aos media locais a importância que de facto têm. Isso manifesta-se na pouca atenção que as políticas públicas lhe dedicam e bem assim num generalizado esquecimento quanto ao seu papel no fluxo noticioso. Se as múltiplas instâncias locais que geram informação – autarquias, associações, escolas, organizações económicas, sociais, culturais, desportivas, religiosas – só pudesse ter expressão através dos media nacionais, quão pobre seria o espaço informativo do país, quão fraca sua capacidade de produzir conteúdos e de partilhar informações relevantes.
A especificidade da imprensa local, enquanto veículo da informação de proximidade, merecendo ser sublinhada, não deve, no entanto, ser apontada como a sua única função distintiva. Na ordem de ideias do que defendi no início deste texto, os media locais criam laços territoriais, põem em contacto os cidadãos com as instituições que operam no seu âmbito geográfico, nomeadamente as instituições políticas. Os media locais baseiam-se numa rede de recolha de informação, num exercício de capilaridade, significam um esforço de captação do local e de adaptação ao local.
Os media locais, e em primeiro lugar a imprensa, são agentes fundamentais da criação e manutenção de um espaço público local propício à interacção dos cidadãos, através do qual eles tomam conhecimento e sinalizam a agenda das organizações da sociedade, tanto as de âmbito local como as de âmbito nacional e global.
Nesse sentido são um elemento constituinte e imprescindível da democracia.
Escrito de acordo com a antiga ortografia