Eu já tinha ouvido falar da Senhora Rego, mas ela chegara excessivamente adiantada ao mundo e eu excessivamente atrasado; tínhamo-nos desencontrado e desencontrados fomos permanecendo. Com certeza, eu estava a par de certas palavras laudatórias que se lhe lançavam nos jornais e nas televisões. A Sr.ª Rego, isto, a Sr.ª Rego, aquilo. Para mim, circundando figura e obra, detinha-se uma aura pública e distante que o meu desinteresse geral por pintura remetia para partes remotas do cérebro. Determinado dia, porém, este estado de coisas alterou-se.
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Sérgio Martinho
Médico psiquiatra
Exclusivo11 de Outubro de 2021
Eu e a Senhora Rego
O que a obra de Paula Rego nos oferece não é uma violência de espingarda, nem de mãos ao pescoço; mas de folha de papel: a violência que se esconde na convulsão surda dos laços.