Nascemos entre quatro paredes, normalmente numa maternidade. Precocemente somos recambiados para outras quatro paredes, geralmente na casa dos pais. Somos mantidos neste cativeiro, anos a fio. Alguns anos depois, somos enviados para outras quatro paredes, as da escola, onde nos mantemos vários anos, tal como na casa dos pais. Findada a escola, uns seguem para a universidade, outros para um qualquer trabalho, tudo entre quatro paredes. Anos depois compramos ou alugamos casa, de forma a termos quatro paredes e prolongar o ciclo das paredes, através dos filhos. Morremos muitos anos depois, entre paredes. Andamos de parede em parede, de preferência o mais rápido possível, seja de dia ou durante a noite. Somos reféns de demasiadas paredes e poucos se apercebem disso, tal a potência da anestesia social. Fora destas paredes há vida, mas isso não é tão interessante para aqueles que nos querem manter entre paredes, de modo a formatar a mente e vender as coisas mais supérfluas, desnecessárias e contra-natura. Muitos andam dissociados da sua natureza, facto que tem tendência a agravar numa sociedade cada vez menos socializada. Eu prefiro estar o menor tempo possível entre paredes, pois há muito por descobrir e usufruir lá fora. Está na nossa natureza sermos parte da Natureza, mesmo que alguns tentem negar que não somos parte da Natureza. As paredes são um meio, não um fim!
Escrito de acordo com a antiga ortografia
(texto publicado na edição de 5 de setembro de 2013)