Todos os anos a história se repete, surge o malfadado ranking das escolas. Fico incomodado com tanta atenção a algo que apesar de supérfluo, é tido como um selo de qualidade inequívoca e inabalável. Nós, portugueses, gostamos muito dos selos, de rotular uma pessoa de uma qualquer forma ou mesmo com uma mera estatística que vale o que vale. Não conseguimos viver a vida sem rotular o outro. Vamos aos factos. Imaginem dois miúdos, ainda na década de 90, ambos andavam no oitavo ano. Um era rotulado como génio, de boas famílias, com um futuro promissor. Os professores apaparicavam o génio, pois o rótulo assim o obrigava. O outro miúdo, de famílias menos boas, era rotulado como alguém que nunca iria ser gente, que não iria sair da cepa torta. Os professores não o apaparicavam, pois o rótulo assim o determinava. Anos depois procedeu-se à monitorização do rótulo. O “génio” transformou-se. Após o 12º ano tornou-se um não génio, alguém que se perdeu nas drogas, talvez pelo exagero do apaparicanço. O outro miúdo, aquele que nunca iria ser gente, esse, depois do 12º trabalhou nas obras e outros biscates. Ah, quase esquecia, tirou uma licenciatura, um mestrado e daqui a uns meses irá finalizar um doutoramento. Não são casos únicos, muito pelo contrário. Será que as escolas necessitam realmente de rankings? Eu digo que não, aliás repudio-os veemente!
Escrito de acordo com a antiga ortografia
(texto publicado na edição de 28 de novembro de 2013)