No seu pequeno gabinete, de tamanho digno para quem reina com tão pouca graça, sentado à sua secretária, móvel fiel de anos, fiel não apenas a ele, mas a todos os que o antecederam – o que, bem vistas as coisas, dilui grandemente a fronteira entre a fidelidade e a promiscuidade – nessa mesma mesa, que servia apenas de tampo para o sinete vazio que se tinha já tornado a sua rubrica, o Dr. Queiroz assinava, utilizando um braço direito que nunca soube ser mais do que puidamente diligente, um conjunto de aditamentos que, como a sua barriga farta, não eram mais do que admissões daquilo que não se pode evitar.
Sérgio Martinho
Médico psiquiatra
Exclusivo21 de Novembro de 2021
O estimável Dr. Queiroz – uma ficção
Pode-se ser inteiramente experiente em não tomar decisão nenhuma. Portanto, longe de falarmos de uma exceção, este diplomado aguardava as suas indicações para forçar um quotidiano rastejante”