A cultura do pouco está a chegar aos nossos jovens, pouca casa, poucos bens, pouca tralha e muito mundo. O desapego está na moda mas não é nada fácil. A maior parte das coisas, pelas quais a minha geração lutou e ainda luta, não tem qualquer significado para a nossa juventude de hoje. A casa e o seu recheio são considerados bens quase supérfluos, desde que se tenha um teto é indiferente quem é o dono.
O meu filho mais novo quando vem passar uns dias cá a casa passa a vida a interrogar-me para que diabo servem os diversos objetos que abundam na minha casa. E note-se que esta não é das que tem mais tralha. Segundo ele se as coisas não têm utilidade deviam ir andando e muitas vezes não sei o que responder sobre os elefantes em fila ou as oito garrafas de cristal em cima do móvel da sala. Claro que o faço entender que quem decide sobre a minha tralha sou eu e ponto final. Se gosto, nem sei bem se gosto, é para ficar.
É verdade que gastamos imenso dinheiro e recursos em coisas que não nos são úteis ou não nos geram felicidade, excluindo aquela que sentimos quando estamos a adquirir um bem. Esta malta nova deixa de comer carne não por questões de fé, de convicção acerca de saúde, mas por questões éticas e ambientais. Primeiro porque têm pena dos animais e depois porque a pecuária é uma fonte de poluição. E fazem sacrifício por isso. Não podemos olhar para eles como tolinhos mas sim com admiração e respeito. Tal como os pais e avós lutaram pela democracia as lutas deles são estas. Mais globais, maiores talvez. Ou talvez não. Deitada na minha cama pergunto-me para que raio quero tantas garrafas de cristal e se é isso que dá luz ou alegria à minha vida. Ou como é que aquela fila de elefantes veio parar à minha cozinha. O OLX é uma alternativa válida, é pois!
(Artigo publicado na edição de 22 de agosto de 2019)