Natal é um shopping que marca o ritmo dos dias em dezembro, mas que começa antes, muito antes, quando no Oriente gente quase escrava acorda a fabricar tudo o que os afortunados do lado de cá vão querer comprar.
No último mês do ano, a vida fica algemada a este jogo de ilusões, trocando o que importa pelo faz-de-conta. As multidões invadem as ruas e enchem as lojas. Dezembro, com os seus excessos, é apenas um exemplo das prioridades que fomos abraçando.
Os mais descarados dizem que a culpa é dos Reis Magos, quando celebraram o nascimento de Jesus Cristo com a oferta de ouro, incenso e mirra. Ironia ou consequência, a única certeza é que o Natal é o espelho da forma como cada um vive uma época que, de ano para ano, tudo transforma em bens materiais.
Os valores perdem espaço para a competição do número de presentes que podemos dar ou receber, num jogo onde tudo é quantificado. Já não bastavam os likes ou a primazia do registo do momento em vez da sua vivência.
Quando não há dinheiro sobra o crédito, com as campanhas desenhadas a pensar em si. O natal é um território de magia, promete felicidade a troco de empréstimos.
Empanturrados, entramos nos últimos dias do ano. Com que número de presentes se faz um Natal Feliz? Qual o valor que mede a felicidade? É só fazer contas e escolher. O que os números não dizem é que dar e receber não é um supermercado, é união e partilha, descoberta e confirmação, dar a mão e olhar no mesmo sentido. Podemos fazer isto com o próximo ou com quem nos cruzamos e fingimos não ver.
Por estes dias, o REGIÃO DE LEIRIA volta a correr as ruas a vender jornais, desta vez a favor de instituições ligadas ao trabalho junto dos sem-abrigo.
Bom Natal.
(Artigo publicado na edição de 19 de dezembro de 2019 do REGIÃO DE LEIRIA)