Quando este jornal nasceu, a 10 de outubro de 1935, a taxa de analfabetismo rondava os 40%. Salazar estava no poder e os ventos não sopravam de feição para a imprensa não religiosa.
A adversidade do contexto, porém, não intimidou José Baptista dos Santos que fundou o REGIÃO DE LEIRIA, ligando-o a um outro negócio que já detinha: a Tipografia Leiriense.
Desde esse 10 de outubro passaram 86 anos. Hoje, a maior parte da população sabe ler. O país vive em democracia e escolhe quem o governa. Publicações de todos os credos e ideologias gozam de liberdade de expressão.
No entanto, o contexto permanece muito adverso para os jornais. Fascinada pela “transparência” e informalidade das redes sociais, uma parte da população não entende a necessidade e o valor do jornalismo. Considera-o dispensável.
Esse público, que se alimenta da realidade distorcida da internet, não faz distinção entre notícias e entretenimento, factos e opiniões, fontes credíveis e não credíveis.
A taxa de analfabetismo desceu consideravelmente nas últimas décadas, mas a iliteracia mediática permanece elevada. Muitos não compreendem o que leem nos meios de comunicação.
Mas não tomemos o todo pela parte. Há quem perceba que num mundo cada vez mais complexo, confuso e incerto, o jornalismo é essencial.
São os bons leitores que fazem os bons jornais. É esse público que tem uma postura ativa face ao que lê, que se interroga em relação às fontes e aos critérios usados, que escrutina e interpela de forma séria e responsável, que faz crescer um jornal.
O REGIÃO DE LEIRIA completa no próximo domingo 86 anos de publicação ininterrupta. Não seria possível atingir tão bonita idade, se estas páginas não fossem lidas por pessoas curiosas, que pensam e se interessam por aquilo que se passa à sua volta, interventivas e com voz.
Não seria possível estarmos a celebrar este aniversário, se o jornalismo que fazemos não traduzisse uma relação tão próxima com a comunidade, se não resultasse de um diálogo permanente e desafiante com os nossos leitores.
O que eles talvez não tenham consciência é que mais do que fazer viver um jornal, mantêm viva uma sociedade esclarecida, igualitária e democrática.
Muito obrigada.