Há umas décadas, um cosmonauta ao contemplar a terra do espaço, afirmava que o mundo é pequeno demais para ter conflitos, mas tem a dimensão adequada para a cooperação. Lembrei-me desta frase a propósito da excelente iniciativa da vereação do Desenvolvimento Social da Câmara de Leiria, ao produzir e disponibilizar um Guia de Acolhimento aos cidadãos imigrantes que demandam o nosso concelho e que são cerca de 12% da população residente. É um bom indicador, Leiria ter essa capacidade de atração de pessoas em busca de melhores condições de vida quer materiais, quer no domínio da segurança e na prestação de serviços públicos e que contribuem, ativamente, para o desenvolvimento coletivo. Ainda recentemente foi noticiado que os imigrantes em Portugal deram mais de 1.600 milhões de euros à Segurança Social (muito mais do que receberam), o que reforça a sustentabilidade do sistema de pensões de todos nós. E mais acresce que a maioria são falantes de português, o que é um fator facilitador da comunicação e da sua integração. No tal planeta adequado à cooperação, este é um gesto que dignifica o concelho e que deveria ser um objetivo transversal de toda a sociedade, porque todos somos pessoas iguais, no quadro geral dos Direitos Humanos. Assim o dizem os crentes na essência de todos serem filhos de um só Deus, ou os socialistas que defendem o primado da igualdade e da cidadania, ou até os liberais que advogam o conceito absoluto da liberdade individual, mais ainda os geógrafos que sabem da abstração política que são as fronteiras. Mas acolher bem, sendo um desígnio nobre, implica outros passos facilitadores da integração, com respeito pelas diferenças e na consequente promoção de medidas para a vida na comunidade, seja no trabalho, na escola, na saúde, no cumprimento da lei ou no convívio. Tal como afirmou, com humor, Geraldo Oliveira, da associação Global Diáspora, “incluir é convidar para o salão; integrar é pegar para dançar!”…
Pedro Melo Biscaia
Professor aposentado, antigo diretor da Escola Secundária Afonso Lopes Vieira (Leiria)
Exclusivo6 de Janeiro de 2024
Opinião: Acolher e integrar
Acolher bem, sendo um desígnio nobre, implica outros passos facilitadores da integração, com respeito pelas diferenças e na consequente promoção de medidas para a vida na comunidade.
VP disse:
Ex.mo prof. Pedro Melo Biscaia, um artigo me pede para adicionar uma consideração adicional à sua carta. Esta manhã, acidentalmente, aconteceu de eu ler a primeira página do Expresso de 12 de janeiro que relatava que 30% dos jovens nascidos em Portugal vivem e trabalham no estrangeiro e destes 40% são mulheres em idade fértil. Seria interessante combinar esses dados com o entusiasmo mostrado em sua carta em direção ao fluxo “imigratório”. Na sua opinião, se esta é a situação, se num país os jovens, os graduados e as futuras mães fogem e em troca chegam apenas “portadores de necessidade”, com todo o respeito que estas pessoas menos afortunadas merecem, o que pode ser o futuro do país? Eu acredito que seria necessário mais senso prático e menos ideologia, pois o risco de tentar cair na “armadilha woke” é alto e capaz de enganar até os velhos sábios…
VP disse:
Opinião: Acolher e integrar.
O estimado professor conduz-nos a uma reflexão profunda sobre a própria génese da cultura da integração mas ao seu incipit acrescentaria: “quem é convidado e se compromete a respeitar as regras e os costumes do país que o acolhe. Ou seja, se sou convidado para ir à casa de uma pessoa que não conheço, toco a campainha e limpo os sapatos “antes” de entrar. Depois procuro conhecer melhor o hóspede e seus hábitos para não ofender sua sensibilidade. Isso é o que nossos avós nos ensinaram antes mesmo de nossos pais e tem um nome preciso: “respeito e educação”, então em teoria até agora não há problemas e todos concordam. Mas, infelizmente, sempre há um mas. Desde que o mundo se tornou “cool”, inspirado no pensamento “woke”, que parece fascinar até os “velhos sábios”, já não funciona assim. A integração parece agora significar que todos podem ir à casa de todos sem convite e sobretudo sem “respeito” e fazer o que quiserem e ainda mais com a protecção “acrítica” (ou talvez interessada?) daqueles, votados pelos cidadãos, que teriam de definir uma agenda com prioridades diferentes. O refrão de que os imigrantes trazem mais do que recebem seria um assunto a ser mais aprofundado, de calculadora na mão, mas uma coisa é certa, o que recebem seja pouco ou muito, sobretudo em termos de cuidados de saúde, partilham com as pessoas menos ricas do país para onde vão, bem como subsídios de instituições.
Quem emigra o faz em busca de melhores condições e, portanto, quem vive num país onde a “emigração” ainda é um facto significativo, como poderia pensar que quem chega traz algo mais do que necessidades e, às vezes, infelizmente, problemas. Tentar investigar e compreender “todos” os aspectos do problema não significa ser contra a inclusão, significa simplesmente chamar as coisas pelo seu próprio nome, não para “excluir”, mas pelo contrário precisamente para tornar o processo de integração verdadeiramente bem sucedido, ou seja, “digno” para quem chega e “não problemático” para quem acolhe. Quem nos vem visitar, convidado e com vontade de se integrar nas regras e hábitos da “casa”, encontrará sempre portas abertas e mãos estendidas. Então, onde estaria o problema…? Para não ser mal interpretado, especifico que pretendia falar do meu país, a Itália, mesmo que…