Depois dos apelos para “ficar em casa” terem sido substituídos por empenhados convites das mais altas instâncias do poder a “sair de casa”, grande parte da população, com mais ou menos limitações e condicionalismos, começou a retomar as suas actividades.
Ainda não há balanços. Mas, às portas da terceira fase de desconfinamento, abertas no início da semana, os indicadores começaram a mudar de trajectória e a geografia pandémica do país começou a alterar-se significativamente, com os números com que se faz a História destes dias a “confinarem-se” agora à área metropolitana de Lisboa.
Não são apenas mudanças na geografia que se notam. Também mudam a antropologia e a sociologia da pandemia. Por trás dos números, onde estavam idosos e lares residenciais, está agora gente em idade activa, nos locais de trabalho ou nos seus degradados bairros residenciais.
´Lembramo-nos bem de, no início de tudo isto, ouvir falar em vírus democrático, que atacava todos de igual forma, não olhando a classes sociais, e sem de desviar de ricos e famosos. Mas não há vírus democráticos, como não há doenças democráticas. No fim, em qualquer calamidade, os mais desfavorecidos, pagam sempre a conta maior.
As limitações e os condicionalismos, no confinamento como na retoma da actividade, pesam sempre mais sobre os que piores condições de vida têm. Na habitação, no confinamento. Na habitação, na higiene, no transporte e no trabalho, no regresso à actividade.
Este SARS-Cov-2 pode até atacar todos por igual. Mas tem a tarefa muito mais facilitada quando chega e é recebido à entrada pelos vírus da pobreza e da miséria. E para esses não há vacina, nem notícia de alguém atrás dela!
(Artigo publicado na edição de 4 de junho de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA)