Há dez anos, num dia muito quente de setembro, a nossa vida mudou para sempre e ganhámos um novo estatuto, éramos agora pai e mãe de uma princesa. Quando tomámos a decisão de ser pais tínhamos a perfeita consciência que deixaríamos de ser “Eu” para passarmos a ser “Nós” e que estaríamos para sempre ligados a este novo ser.
Recordo ao pormenor o dia do seu nascimento e do momento em que ficamos ali juntas pele com pele e coração com coração. Não tenho palavras para descrever este momento que já vivi três vezes, com os meus três filhos. Naquele momento, é como se eu deixasse de existir e passasse a ser uma extensão dela e a viver para ela.
É fantástico parar no tempo e recordar os principais eventos que marcaram a sua vida e perceber que hoje somos “meros” espetadores e facilitadores do seu desenvolvimento.
Durante quarenta semanas dependemos uma da outra e, principalmente, do meu sentido de responsabilidade. Nessa altura sentia-me profundamente especial e privilegiada por ser a única a senti-la e estava ansiosa para a conhecer e viver com intensidade as fases da maternidade. Adorei a fase da amamentação, apesar das normais dificuldades iniciais. Depois vieram os primeiros passos e palavras, os sorrisos deliciosos, as suas vontades e preferências, sempre bem vincadas, as dinâmicas da escola, os irmãos e a cumplicidade que criaram, os amigos e claro os abraços e beijos do dia-a-dia que são a força motriz para que tudo faça sentido.
De um olhar muito calmo e sereno, de longos cabelos negros e de uma beleza interior e exterior que a todos fascina, a nossa bebé é hoje uma mulherzinha responsável, de um bom senso, sentido crítico e inteligência ímpares. Fico inúmeras vezes simplesmente a olhar para ela, completamente apaixonada e orgulhosa.
Para o seu desenvolvimento é de realçar a importância da escola e dos seis anos que passou no Jardim Escola João de Deus e da família que ali encontrou, pois não é apenas uma escola, é um lugar de ensinamentos e afetos tão especial, onde todos os dias os nossos filhos são recebidos com um sorriso e se despedem com um beijo, um abraço e um até amanhã.
Agora inicia-se uma nova fase na sua vida, com uma nova escola e amigos, uma mudança que vamos acompanhar de perto, sem tentar invadir, pois aos dez anos “já sei tratar de mim”, como ela diz.
Há dez anos que nos amamos e hoje a nossa vida só assim faz sentido.
(texto publicado na edição de 4 de setembro de 2014)