Começo este texto com uma declaração de interesses; sindicalizei-me quando iniciei a minha vida profissional no Sindicato dos Professores da Grande Lisboa (SPGL), mais tarde, ao iniciar funções no ensino superior, passei para o Sindicato dos Professores da Região Centro (SPRC), sempre fui ativista e delegado sindical e integrei o grupo fundador do Sindicato Nacional do Ensino Superior (SNESUP), de que fui o sócio número 17 e membro da respetiva Comissão Instaladora.
Há alguns anos desvinculei-me por ter divergências profundas com a estratégia da direção do sindicato que ajudara a fundar; deixei de ser sindicalizado mas não de considerar a causa sindical fundamental em termos sociais e imprescindível na defesa dos interesses que representa.
Entretanto, as relações de trabalho alteraram-se, evoluem rapidamente, assumem formas inovadoras, de que a uberização é o expoente máximo, e alguns sindicatos parecem ter parado no tempo e agir segundo lógicas sem suporte sociológico.
A recente transição operada na CGTP tem dois aspetos contraditórios, reconhece a importância das mulheres, mas reforça a progressão dos sindicalistas “profissionais”, que podem ser dirigentes competentes, mas que pouco trabalharam, ou há muito deixaram de trabalhar, nas fábricas, escritórios, escolas, etc, para se ocuparem da burocracia sindical.
Uma carreira profissional fora dos sindicatos devia ser um elemento valorizador do currículo e talvez a única forma de manter a independência pessoal dos dirigentes e de estes escaparem a lógicas de aparelho, dependências e limitações que afetem a sua liberdade de ação e decisão.
Um sindicalismo moderno exige estratégias inovadoras e criativas alinhadas com a evolução das sociedades, insistir num figurino burocrático agravará o enfraquecimento dos sindicatos e as sociedades perderão com isso.
(Artigo publicado na edição de 20 de fevereiro de 2020 do REGIÃO DE LEIRIA)