“Não às taxas moderadoras”, ecoa por aí. Tudo em Portugal tem a sua versão “Não” que, normalmente, corresponde a menos responsabilidades, menos pagamentos, menos compromissos, e esta versão “menos” da vida nacional é que nos faz andar na cauda e não sair do ciclo vicioso em que vivemos há séculos; os governos continuam a servir para “cobrar impostos e pagar a dívida” e o Zé Povinho permanece espoliado e sequestrado pelo atraso e por mais impostos.
É verdade que já somos capazes de organizar Web Summits, mas não somos competentes para perceber que sem produzir não se pode distribuir, que quanto mais Estado, menos liberdade, que sem uma economia e uma sociedade livres de peias administrativas e de regulamentações absurdas continuaremos condenados à mediocridade que corrompe e estiola as pessoas e as coisas.
E há algo intrigante na sociedade portuguesa, a abertura que vivemos de informação e mobilidade, a globalização em que todos mergulhámos, não tem servido para abrir grandes horizontes, como fica claro no baixíssimo nível do debate cívico, na impreparação de muitos com responsabilidades políticas e governativas, até na falta de qualidade de alguma comunicação social comprometida com o popularucho estilo tabloide.
O debate público quotidiano é quase sempre marcado por escândalos, questões remuneratórias do funcionalismo público, pensões, casos judiciais, recentemente pelas disfuncionalidades do SNS, e temas afins, sem uma palavra sobre como resolver os grandes problemas nacionais, seja o pagamento da dívida pública, a redução da população, o aumento da produtividade, das exportações, da riqueza nacional. É a política do “não”, do menos, do interessezinho corporativo, da inveja atávica, do “não faço, nem deixo fazer”, no seu melhor.
À janela do mundo, continuamos a olhar para o umbigo.
(Artigo publicado na edição de 2 de agosto de 2018)