Uma proposta para introduzir quotas para minorias étnicas no acesso ao ensino superior gerou acalorado debate e acusações racistas. Recordo que quando se introduziram as quotas para mulheres na política só quase lá havia homens e hoje já estamos próximos da paridade. As quotas nestes casos são eficazes e os seus aspetos negativos são largamente suplantados pelos positivos.
O mérito é mais complexo e o sentido original é de algo importante realizado por alguém em prol da comunidade. Hoje mérito é sucesso. Ou se é um vitorioso e se tem mérito ou se é um falhado. Aplique-se o conceito à vida escolar e atente-se no que a ciência, sem qualquer margem para dúvidas, comprova. A escola é uma instituição reprodutora da cultura dominante, os que lá têm maior sucesso são os que possuem famílias com maior capital financeiro, social e cultural.
Veja-se o exemplo das minorias étnicas de origem africana em Portugal? Falamos de quantos cidadãos? Não se sabe, mas são muitos, sobretudo na cintura de Lisboa. E quantos chegam ao ensino superior, quantos estão na política, quantos aparecem nas televisões, como advogados, médicos, professores? Só nos telejornais, pelos piores motivos. E nem falemos nos ciganos, que a situação ainda é mais dramática.
Afinal onde está o mérito? Só nos bairros abastados ou da classe média? Os pobres não têm mérito? O elevador social escolar não funciona? Não, porque o mérito escolar é uma falácia e o sistema de acesso ao ensino superior em Portugal uma herança absurda de um tempo em que a escola era um instrumento puro e duro de seleção social. Numa sociedade que se quer inclusiva a escola não pode funcionar neste registo.
É urgente mudar o regime de acesso ao superior e para quem ainda não percebeu já há quotas, chamam-se Cursos Técnicos Superiores Profissionais e são para todas as etnias.
(Artigo publicado na edição de 25 de julho de 2019)