O conflito armado regressou à Europa com o seu cortejo de horrores, mortes, destruição e refugiados, apenas diferindo dos anteriores porque hoje tudo é partilhado em tempo real e a tecnologia das armas evoluiu.
A opinião pública consolidou uma narrativa simplista, a Rússia invadiu a Ucrânia sem qualquer razão e a luta tem duas trincheiras bem claras, de um lado uma ditadura cruel e do outro uma democracia simpática, que tem de ser acarinhada e defendida. A retórica dos bons e dos maus tem vindo a demostrar que afinal nem os democratas ocidentais aceitam opiniões diversas e a poeira do conflito tornou-se o combustível da intolerância; só não há gente queimada na fogueira porque as inquisições modernas usam outro combustível.
O que se passa na Ucrânia não é apenas entre russos e ucranianos é um jogo de guerra que tem de um lado os Estados Unidos e a NATO e do outro a Rússia e a China, embora esta escondida atrás da cortina, e a Índia a tentar não se precipitar no vazio.
É tocante ver a mobilização generalizada do “somos ucranianos”, mas perguntamo-nos porque razão a Europa foi fechando as fronteiras aos que fogem da guerra e da devastação africanas e que morrem no mar e agora as abriu indiscriminadamente? É que as primeiras ondas de refugiados foram provocadas por guerras e insurreições que os Estados Unidos e a Nato precipitaram.
Os países da NATO e da União Europeia já estão em guerra com a Rússia por via das sanções e do fornecimento de armas a uma das partes em conflito e é bom que se tome consciência deste facto pois a guerra, que já nos chegou através da subida dos preços, pode mesmo tornar-se real mais depressa do que se possa pensar.
A invasão da Ucrânia e a destruição brutal a que assistimos merece todo o repúdio, mas não desresponsabiliza quem fingiu ignorar a situação tóxica que estava criada e, ao invés de se tentar apagar o fogo, lançou-se-lhe combustível. A Ucrânia é apenas o peão sacrificado na luta pela liderança do mundo.