A substituição de Raul Castro na presidência da Câmara Municipal de Leiria e a sua posição na lista de candidatos a deputados do Partido Socialista, como cabeça-de-lista, são factos políticos de evidente importância para o concelho, para o distrito e para o PS.
Não pretendo fazer o balanço político da sua presidência, nem o espaço é suficiente, mas para além da espuma da política é importante reconhecer as suas qualidades e a forma como assegurou uma liderança marcante que convenceu os leirienses e lhe permite agora sair em glória.
Raul Castro, como personalidade política, é um caso de estudo e ilustra bem um tipo de autarca para quem o pragmatismo é bem mais importante do que a ideologia e tem qualidades excecionais como gestor de contas e pessoas, as primeiras porque sabe acertá-las, quanto às segundas, e como lhe disse várias vezes, é das poucas pessoas que conheço que consegue meter vários gatos no mesmo saco e eles em vez de se arranharem conseguem conviver e trabalhar em conjunto.
Do ponto de vista da engenharia política, o fim antecipado do mandato para ser cabeça-de-lista e deputado é um triplo jackpot; dá-lhe oportunidade de sair pela porta grande, projeta Gonçalo Lopes para presidente, oferecendo-lhe a oportunidade de ser o candidato indiscutível do PS nas próximas autárquicas, e capitaliza o seu prestígio e influência no distrito que pode ir muito para além do PS, conhecidas as simpatias que também tem de muita gente do PSD e do CDS.
A estratégia é notável e a ela não é alheio António Sales, um verdadeiro artífice de filigrana política, mas se a saída do presidente não significa o fim imediato da sua influência, corresponde a uma mudança significativa e cria novas condições para a próxima disputa autárquica. Castro muda de tabuleiro, mas os ecos dos seus mandatos permanecerão para o melhor e para o pior. As heranças políticas são sempre discutíveis pelo que a vida dos seus herdeiros não vai ser fácil.
(Artigo publicado na edição de 15 de agosto de 2019)