Como quase tudo o que tem feito mudar o nosso país ao longo dos séculos, a adesão à União Europeia foi o resultado de uma decisão das elites nacionais e não um impulso popular, sentido e defendido pela esmagadora maioria da população.
Com o tempo fomo-nos europeizando, não obstante, estas eleições evidenciam as contradições da construção europeia, que da Europa das pátrias e das nações chegou a um impasse em que o federalismo e o nacionalismo medem forças e os movimentos centrífugos são cada vez mais notórios.
A Europa é hoje uma casa comum onde a discussão entre a parentela é muito mais audível que a unidade da família, e o que vemos é uma União a arder em lume brando, atiçado pelas disputas de grupos políticos, em que a maioria da população não se revê e por isso se abstém.
Basta olhar para a campanha eleitoral em Portugal, de que a Europa esteve quase ausente, para percebermos a raiz do fenómeno, preferindo-se a discussão sobre a política interna, as guerras pessoais, as intrigas, a valorização da maledicência sobre os adversários, ao invés da prioridade para a argumentação positiva sobre a importância de continuarmos a construir uma Europa forte e coesa e como nesta construção a participação consciente de todos é indispensável.
Estas eleições vão ser o espelho do momento europeu, marcado pelas divergências, pelos nacionalismos, por posições contra o afluxo de refugiados e migrantes, pelo reforço de forças políticas de sinal diferente das dominantes nas últimas décadas.
Não é o fim da União, sequer um drama, é apenas a continuação do percurso milenar de uma Europa em permanente convulsão, neste caso muito elitista, pouco participativa, preocupada com o centro e esquecida das periferias. Embevecida com a modernidade, esqueceu-se dos que ficaram para trás; é o clamor destes que ditará o futuro.
(Artigo publicado na edição de 23 de maio de 2019)