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Passageiro do tempo: Super hipocrisia

Em 2017 houve mais 24 mil mortes do que nascimentos; é a peste branca a dizimar-nos, mas quem se preocupa com isso?

 

jmsilva.leiria@gmail.com

 

Em 2017 houve mais 24 mil mortes do que nascimentos; é a peste branca a dizimar-nos, mas quem se preocupa com isso? Importante é a Super Nanny, o programa diabolizado por quase todos e que nos atira à cara o que fingimos não ver, a educação das crianças e dos adolescentes transformou-se num enorme problema e parece que a resposta, politicamente correta, é negar a realidade.

Se mudarmos família por escola, a questão é a mesma e os próceres das ideias certas insistirão que não se passa nada, a culpa é dos professores, como nas famílias é dos pais. A favor dos direitos das crianças e dos jovens, tudo, que deveres é coisa menor, e o que aponte os queridos pestinhas como necessitando de reprimenda corretiva mais severa, atenta contra os seus sacros direitos.

Não discuto estes, nem legitimidades, apenas me interessa partilhar o que vi, vimos todos, crianças insuportáveis, famílias descompensadas, quotidianos familiares inimagináveis, ausência de regras, de rotinas, de capacidade de se separarem águas entre quem educa e quem devia ser educado. Quem não se reviu por momentos em um qualquer dos takes exibidos, quem nunca experimentou o desespero de lidar com situações que roçam o descontrolo, quando as crianças ou os adolescentes entram numa espiral de confronto em que os pais passaram a ser o elo mais fraco?

O programa choca as nossas consciências formatadas nos direitos das crianças, mas alerta para um problema gravíssimo que não se resolve ignorando-o e, como é sabido, o primeiro degrau para resolver um problema é admitir que ele existe.

(Artigo publicado na edição de 25 de janeiro de 2018)