Que cidade queremos ter nos próximos 20 anos? Um filósofo romano dizia que “se não sabes para que porto vais, nunca terás ventos favoráveis”. Eu acho que o mesmo se aplica a cidades – se não sabemos que cidade queremos ter, nunca teremos os “ventos favoráveis” de que precisamos.
Nuno Fonseca
Diretor convidado e CEO da Sound Particles
Exclusivo4 de Janeiro de 2024
Pensar um futuro para Leiria
Sim, podemos ir melhorando pontualmente algumas áreas da nossa cidade, mas a vida ensinou-me que se queremos os melhores resultados, precisamos de colocar tudo em causa, pensar em grande.
VP disse:
Ex.mo eng. Fonseca, suas perguntas cobrem todo o espectro do problema e, como uma pergunta exige uma resposta, tento segui-la. “Queremos aumentar a população da região ou focar-nos apenas nos cidadãos atuais?” Eu sei isso. A Região, tal como todos os contextos urbanos que a compõem, deve crescer garantindo igualmente a qualidade de vida dos actuais residentes. “Queremos apostar no turismo, ou dispensamos autocarros com turistas?” Eu também sei disso. A Região deve continuar a atrair o turismo, um importante multiplicador de crescimento, talvez aprendendo a prestar os serviços que tornam positiva a relação custo/benefício. “Queremos atrair empresas externas, ou dar prioridade às pequenas empresas regionais?” Isso é facil. Atrair empresas estrangeiras é positivo se isso significar reforçar as pequenas e médias empresas locais. Por que um deveria excluir o outro? “Queremos que a cidade seja conhecida lá fora, ou queremos ser um segredo muito bem guardado?” Pode parecer estranho, mas também tenho uma resposta para isso. Todas as cidades, e são muitas na Região, devem aprender a vestir-se com elegância para garantir que os seus valores despertam a curiosidade “lá fora”. Casas abandonadas e/ou montras vazias não têm qualquer atractivo particular. “Eu sou engenheiro, e como tal, tendo a achar que tudo se resolve analisando o problema, ponderando as opções, e implementando a melhor”. Certo. É exatamente isso que falta e que infelizmente falta e aqui sigo o seu pensamento sem hesitar. “Atenção, não se trata de uma crítica aos autarcas – tenho a certeza de que alguns farão este exercício de tempos a tempos – mas acho que esta deve ser uma reflexão que todos os cidadãos devem fazer”. Aqui eu sigo apenas parcialmente. Porque se é verdade que o esforço deve ser comum e envolver todos os cidadãos, também é verdade que cabe às instituições a responsabilidade de orientação e controlo. Tomemos como exemplo Leiria. Uma cidade onde as regras de trânsito são constantemente violadas pela maioria da população. Quem para no meio da estrada com as 4 setas para fazer o que quer sem se preocupar com quem vem por trás. Aqueles que estacionam em todo o lado sem respeito, nas curvas, em filas duplas, até dentro de rotundas. Aqueles que entram nas rotundas sem nunca ceder, quase como se se tratasse de uma corrida. Quem ocupa os espaços destinados à maceração/descarga de mercadorias. Quem que fez a última inspeção no carro há 10 anos, vendo a fumaça que ele libera no ar. Quem deveria ser responsável por fazer cumprir as regras e/ou sancionar os transgressores, senão as instituições? Aqueles que hoje lidam com ciclovias que ninguém utiliza, que aplaudem a imigração “tout court” num Pais onde a assistência médica não é garantida nem aos residentes, que testemunham os casos repetidos e crescentes com a criminalidade em a cidade sem dar a impressão de se preocuparem muito. Ex.mo Eng. Fonseca, infelizmente a verdade é que as perguntas são muitas e é legítimo colocá-las, mas na ausência de respostas, as perguntas são de pouca utilidade…