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reXistência: Exodus

O fim das minhas férias surgiu num abrir e fechar de olhos. O tempo esvaiu-se contra a minha vontade. É hora de dar início à viagem de regresso. É preciso voltar a percorrer os mais de 2.000 km de volta a Bruxelas.

Cláudia Oliveira, jurista, assessora no Parlamento Europeu rexistencia.co@gmail.com

O fim das minhas férias surgiu num abrir e fechar de olhos. O tempo esvaiu-se contra a minha vontade. É hora de dar início à viagem de regresso. É preciso voltar a percorrer os mais de 2.000 km de volta a Bruxelas.

Em tempo de crise é preciso calcular bem os trajetos para não nos arruinarmos, antes mesmo de sair de Portugal, com os pagamentos das portagens e o preço dos combustíveis. Parto de Lisboa. Opto pela A6 que me leva rapidamente a Espanha, onde poderei circular em “autovia” sem pagar e o gasóleo é mais barato.

No país vizinho descubro ainda que a felicidade está à distância de uma tampa de um conhecido refrigerante, que nos convida a “destapá-la”, e que a alegria vem com os gelados que nos prometem momentos dela.

As estradas estão cheias de carros cheios de gentes que chegam de todos os lugares. O êxodo cresce a cada ano que passa. As áreas de serviço são pequenas amostras de mundo e de diversidade.

Só ao final do dia, já próximo do País Basco, voltamos a entrar numa autoestrada. O caminho que atravessa as montanhas é sinuoso mas magnífico. Depois da aridez e secura que atravessámos ao longo do caminho, é reconfortante reencontrar o verde e alguma frescura. Do outro lado espera-nos o mar, no Golfo da Biscaia, e uma noite de descanso.

Ainda em Espanha, num elevador, cruzo-me com uma família local. O filho deve ter uns 4 ou 5 anos e traz uma t-shirt onde se lê: “Estive na Nazaré e lembrei-me de ti”. Sorrio.

A viagem continua no dia seguinte bem cedo, é preciso atravessar a França. Antes de passar a fronteira é preciso atestar o depósito até à última gota possível. Todos os que fazem este percurso sabem disso. A última área de serviço antes da fronteira está cheia e todos querem atestar. Cada litro que couber nos depósitos representa 20 cêntimos de poupança.

O caminho prossegue a passo de caracol. A autoestrada que liga a Bordéus está em obras. Há 3 anos que a conheço assim. Um cartaz pede desculpas pelo incómodo e avisa que só terminarão em 2014. Além do alargamento da autoestrada, está em construção uma linha de comboio de alta velocidade.

Segue-se devagarinho. Para. Arranca. Para. Arranca. A autoestrada está cheia, muito cheia. Nas áreas de serviço as famílias estendem as mantas e trazem as lancheiras para os piqueniques. É preciso retomar o caminho, passar Paris em hora de ponta, continuar para nordeste em direção à última fronteira. É noite quando entramos na Bélgica, aqui a autoestrada volta a ser gratuita e o combustível mais barato. 90km depois chegamos a Bruxelas.

Até no caminho a Europa é diversa.

(texto publicado na edição de 31 de agosto de 2012)