Subitamente, as pessoas perceberam a premência de trazer o seu descontentamento para a rua.
Há sempre um momento em que se perde a paciência, porque não é razoável mantê-la.
Pouco a pouco foram-nos estreitando os horizontes, subtraíram-nos amanhãs, reduziram-nos as certezas a uma permanente incerteza. Mas há limites. Nem todos teremos os mesmos, é certo, mas, mais tarde ou mais cedo, todos chegamos ao ponto em que só podemos dizer: BASTA!
E foi isso que aconteceu no dia 15 de setembro! Um milhão de portugueses mostrou claramente que não aguenta mais, que atingiu o seu limite!
O escandaloso aumento da TSU (taxa social única) para os trabalhadores, com a correspondente redução para os empregadores teve o efeito de um verdadeiro tsunami que arrastou as pessoas para as ruas.
Estamos fartos que nos mintam! Estamos fartos que nos responsabilizem por uma crise que não criámos e que tenhamos que ser nós a pagá-la.
E foi magnífico! As ruas, as praças, os largos das cidades encheram-se. Em Bruxelas partilhei o momento com mais cerca de 60 pessoas que queriam mostrar que não é a distância que nos cala, e vivíamos cada notícia que ia chegando de Portugal, sobre o alcance do protesto, com verdadeira emoção e alegria. Quando vi as imagens da concentração de Leiria, percebi que algo estava a mudar de facto! Nunca tinha visto nada assim em Leiria!
O dia 15 mostrou que este Governo não tem legitimidade popular para continuar com estas políticas!
E agora? Agora, continuamos!
Porque não podemos continuar a deixar que nos mintam, que nos sacrifiquem em nome do capital e dos mercados, em nome dos maus negócios e da contração de dívidas ilegítimas. Porque não podemos admitir as chantagens da Comissão Europeia e de Durão Barroso, que de manhã defende a necessidade de aprofundarmos a união política, como única forma de atingirmos solidariedade e a igualdade entre todos os Estados da União Europeia, e simultaneamente insiste na mesma política e rumo económico que conduzem necessariamente ao resultado oposto, e à tarde faz declarações sobre a necessidade de consolidar e aumentar a política austeritária em Portugal.
Não queremos chegar à mesma situação da Grécia, onde, face à escassez de meios, já se escolhe quem pode ter cuidados médicos e quem é condenado a morrer sem eles.
O que aconteceu no dia 15 foi só o início. Hoje, dia 21, voltaremos às ruas. Dia 29, voltaremos às ruas. E voltaremos quantas vezes forem precisas. Porque agora sabemos que podemos resistir! E resistir é vencer!
(texto publicado a 21 de setembro de 2012)