Na semana passada, juntámos um punhado de colegas do curso de economia da Universidade de Coimbra. Matámos saudades e fizemos a ponte entre as recordações e a atualidade de cada um.
A São Mirante, amiga e dinamizadora do encontro, acabou por me fazer lembrar as qualidades do seu irmão, meu companheiro na Residência da Alegria.
Nos últimos anos tenho frequentado tribunais, como testemunha, mais do que gostaria. O ambiente em tribunal é muito difícil, a pressão e o medo são sensações comuns e os representantes da justiça não são sempre humildes funcionários ao serviço do cumprimento da lei. José dos Santos Mirante é diferente, a sua postura e os seus valores são merecedores de todos os elogios.
Competência, humildade e calma
José Mirante foi seminarista e tirou o seu curso ao abrigo do estatuto de militar. Aquele estatuto permitia-lhe fazer um exame por mês e ele aplicou-se como ninguém.
O curso de direito, na década de 80, do século passado, era muito difícil, ele tinha pouco tempo para ir às aulas, face à atividade militar, mas passava os dias na residência a estudar intensamente, o seu trabalho foi compensado e acabou o curso de direito, em 1988. Depois passou 9 anos a trabalhar, como advogado, na Direção de Finanças de Leiria. Em 1999 montou o seu próprio escritório e tornou-se o melhor advogado, da nossa praça, em matérias fiscais.
O sucesso profissional depende da combinação das doses de inspiração e transpiração. José Mirante tem valores e a sua formação espiritual, humanista e ética inspirou-o, as suas origens humildes de uma família das Cortes que fazia do sacrifício pelo trabalho a lei, deu-lhe a resistência para transpirar por um valor maior. Nos seus valores, humildade e calma principalmente, ele é um exemplo enorme.
Uns mais iguais que outros
Quando estamos num tribunal, a defender os nossos direitos, contra o Estado ou empresas por si detidas, entramos sempre numa posição de inferioridade.
Advogados e juízes vestem uma capa para, simbolicamente, demonstrar que ali, aos olhos da lei, são todos iguais, mas há uns mais iguais que outros. Raro é o julgamento onde não se monta um teatro para demonstrar uma bacoca sensação de poder. Alguns juízes e advogados mostram, naquele palco, que são os reis do pedaço, e tratam os “sem capa” de forma humilhante.
Já vi um advogado rir de uma testemunha por não assumir uma frase que, afinal, tinha sido proferida por outra pessoa, com o mesmo nome, já ouvi de um juiz a expressão “isto não é um café” pela forma como estava sentado, já ouvi berros e ameaças a testemunhas para causar medo e sacar o que convém, não a verdade.
Depois a frase de advogados para os juízes, “com a devida vénia”, irrita quando percebemos que, afinal, o respeito é parcial. Depois temos os julgamentos com o advogado José Mirante, respeitoso para todos, humilde, nunca eleva a voz para demonstrar a sua razão, enfim, um exemplo de quem tem competência, mas, principalmente, tem valores.
Moral da história
Os tribunais são constituídos por pessoas que acertam e erram como todos. A humildade, o respeito e a ética são qualidades exigidas em todas as profissões.
Quando a função é fazer cumprir a lei, julgando ou apoiando quem julga, aqueles valores ganham ainda maior importância. Bem sei que o poder fascina, mas a lei deve ser cumprida com respeito e sem arrogância.
José dos Santos Mirante faz dos tribunais um palco onde espalha competência, respeito e valores e sei que é acompanhado na postura por muitos outros colegas, mas, os outros também existem…