No século XIX, os comboios eram o símbolo da sociedade industrial e do progresso. O imaginário colectivo rapidamente foi conquistado pela velocidade das máquinas que, envoltas em ondas de vapor e fumo negro, aproximavam terras e gentes.
Em Portugal, entre os anos de 1854 e 1890, a criação de uma rede de caminhos de ferro era vista como um meio de superar o atraso económico. A ferrovia iria permitir alargar o mercado interno, estabelecer vias de circulação alternativas à frágil rede de estradas e promover uma melhor ligação do litoral com o interior e o resto da Europa.
A rede ferroviária favoreceu a centralidade de Lisboa e do seu porto de mar, mas beneficiou também o Porto e a expansão urbana de outras localidades.
Num contexto marcado por diversas crises financeiras, a ferrovia foi-se consolidando, custeada por avultados investimentos e sucessivos empréstimos externos.
A incipiente industrialização oitocentista, a estagnação do mundo rural e o reduzido volume de bens transportados fizeram ruir as expectativas mais optimistas.
A instabilidade política da 1ªRepública e as consequências da 1ª Grande Guerra inibiram diversos processos de expansão, nomeadamente em relação à Linha do Oeste.
O Estado Novo viu expandir a electrificação, as vias suburbanas, a metalurgia pesada e surgiu a Sorefame, dedicada à construção de locomotivas e carruagens.
A partir do final dos anos 60, deu-se a expansão do transporte rodoviário e do automóvel, com os inerentes custos ambientais, energéticos e de sinistralidade, acumulados até aos nossos dias.
Sucessivos governos democráticos deslumbraram-se com as autoestradas e o caminho de ferro foi sendo abandonado, a C.P. desmembrada e a Sorefame fechou. Perdeu-se capacidade tecnológica e mão-de-obra especializada.
Em 1952, havia 3.597 km de via férrea e, em 2015, 2.545km, o número de locomotivas foi sendo brutalmente reduzido e o material envelheceu. Em 2018, um relatório oficial indicava que 60% da rede ferroviária era má ou medíocre devido à falta de modernização.
A Linha do Oeste continua a ser o drama que se conhece e o País não está preparado para a enfrentar a liberalização, a curto prazo, no sector da ferrovia e a concorrência estrangeira. Mais uma vez, por falta de visão, os governos têm sido incapazes de acautelar o futuro.
Escrito de acordo com a antiga ortografia
(Artigo publicado na edição de 14 de março de 2019)