Apesar da vitória do Não no referendo de 1998, os adeptos da divisão do País em regiões artificiais não desistem. A regionalização do território de um velho Estado-Nação acarretaria consigo ameaças para o futuro e poderia vir a fragilizar a unidade nacional. Aumentaria, perante Espanha, as vulnerabilidades do País, dado o enfraquecimento do Estado Central e a influência certa do poderoso vizinho nas regiões fronteiriças a criar.
A regionalização feita a gosto das actuais elites político-partidárias iria promover, para um escalão superior, os vícios e vazios já existentes na vida pública das comunidades municipais e ampliar os efeitos perversos de muitas práticas autárquicas.
A regionalização é a última fronteira a conquistar para expandir influências e caciquismos, fazer crescer famílias políticas e dependências pessoais, num momento em que a prática partidária dá sinais de claro enquistamento e se afasta de forma progressiva dos cidadãos.
A regionalização introduz factores de perturbação interna, como aliás recentemente se viu com a atitude dos Açores e da Madeira em relação ao conflito que opôs professores e enfermeiros ao governo. E não consta que ambas as Regiões sejam zonas plenas de virtuosismo cívico ou imunes à deterioração da prática político-partidária e ao clientelismo.
Ao longo da História, Portugal enfrentou diversas ameaças externas, conseguindo superá-las graças à existência de um Estado capaz de fomentar linhas de continuidade estratégica transversais a diferentes regimes políticos e à unidade nacional. No actual território português nunca floresceram movimentos secessionistas ou independentistas e mesmo os autonomismos sempre se reduziram a devaneios de circunstância.
Estranha-se que, agora, se pretenda atirar borda fora um dos garantes institucionais que nos permitiu manter a independência, resistir à integração em Espanha e desencadear um dos momentos mais significativos da História mundial, como as grandes navegações e os Descobrimentos.
A fragmentação política interna é um erro e um risco ao arrepio da História. Se vier a acontecer, será apenas o triunfo dos egoísmos político-partidários de curto prazo sobre a identidade nacional.
Escrito de acordo com a antiga ortografia
(Artigo publicado na edição de 27 de junho de 2019)